Veneza, cá estou eu no último dia de férias, extraindo prazeres dos pontos que já conheço na cidade e procurando outras joias inéditas para mim. Não é difícil num lugar como Veneza.
Eis que me ocorre visitar a feira de Rialto. Seria uma feira de rua absolutamente comum se não fosse Veneza. O Canal Grande está ali do lado, o leão de São Marcos me observa do alto, os feirantes gritam em italiano-veneziano e estas colunas que sustentam a abóbada carregam o peso de séculos. Com isso tudo, Rialto deve ser, sem grande esforço, a feira de rua mais cara da Europa.
E pensar que há algumas semanas eu percorria os bazares de Istambul. Completo um círculo histórico: as duas cidades estão intimamente ligadas. Veneza foi um império grandioso graças ao comércio com o Oriente, através da Turquia. E Constantinopla/Istambul floresceu graças ao comércio com o Ocidente, representado pelos venezianos. Não por acaso, Veneza entrou em declínio quando os ibéricos passaram a fazer concorrência através de uma rota alternativa. No meio tempo, Veneza aprendeu com Constantinopla e vice-versa. As fachadas em estilo oriental que se veem ao largo dos canais percorridos pelas gôndolas não são acaso. Cortinas chamadas de venezianas ou de persianas (este nome, possivelmente, um equívoco histórico), também não. Marco Polo (que nasceu na Croácia, numa época em que a República de Veneza controlava a região) saiu de Veneza e passou por Constantinopla para chegar ao Oriente. Nada mais conveniente que eu, depois de visitar Istambul, redescobrisse Veneza.
Num lugar qualquer desta minha aventura, li uma frase de Orhan Pamuk, o Prêmio Nobel turco, dizendo que, ao voltarmos de viagem, nunca encontramos um lugar igual ao que deixamos, pois nós mesmos mudamos no caminho. A frase faz sentido e já deve ter sido dita por mais gente antes dele. Voltando para casa, eu poderia dizer: a viagem termina, como começou. Mas virão outras.