quarta-feira, 16 de junho de 2010

O mar de Copacabana

Da sacada do meu apartamento em Copacabana, via-se o mar. O apartamento não era luxuoso nem ficava particularmente perto da praia, mas o prédio era alto e o andar era um dos últimos. Assim, da sacada, via-se não exatamente a praia, mas o mar. Com o seu azul delimitado pelo azul do céu, com os navios de carga, um ou outro veleiro e um punhado de ilhas mais adiante.
Era assim que eu preferia o mar. À distância, podia observá-lo e sonhar com ele à vontade, protegido de olhares indiscretos, de vendedores insistentes, de sal e areia grudados no corpo. Amava o mar, não a praia, se é que me entendem. Nos finais de tarde, eu me colocava, debruçado sobre a cidade, cuia de mate entre as mãos, e namorávamos, eu e o mar.
Já se vão alguns anos. Saí de Copacabana e passo por lá bem menos vezes do que alguém poderia supor. Hoje meu apartamento não tem sacada nem vista para o mar. Apesar disso, eu me acostumei e gosto dele, com suas paredes laranjas, sua rua sossegada, sua vista insuspeitada para o outro lado da cidade. Vivemos, eu e meu apartamento, numa união estável.
Outro dia, recebi uma visita que não conhecia o Rio de Janeiro. Transformado em cicerone, saí a mostrar o que a cidade tem a oferecer. E que, claro está, inclui Copacabana como passagem quase obrigatória. Pois fomos até lá. O bairro esperava por nós como espera, dia após dia, por tantos e diversos visitantes. Copacabana parece não mudar. Estendia em nossa direção o calçadão de pedras portuguesas que é seu vestido de ondas. Oferecia o que quiséssemos petiscar, de biscoito Globo a refeições completas. Abria seu tabuleiro nas esquinas, em artesanatos e feiras de frutas. Impunha-se com seus prédios inumeráveis, suas calçadas abarrotadas. Deixava entrever suas rugas num pedinte do asfalto, num bêbado de banco de praça, numa mulher de vida dita fácil. E a todos oferecia o mar.
Antes do mar, o mar de gente. Que é bom de se ver munido de lupa, atentando para cada gota, cada partícula deste universo que é Copacabana. Atletas de fim de semana. Turistas de camisa florida, sandália e meias coloridas. Senhoras idosas e respectivas enfermeiras. Mães de primeira viagem e filhinhos que são uma graça. Ciclistas. Ciclistas que voam rente a nós. Torcedores de todos os times de futebol, inclusive os mais improváveis. Pescadores. Políticos. Profetas.
Para todos, o mar. Sentemos. Sentamo-nos próximo a ele, sentimos. Reencontrei o sol e o sal, o cheiro do mar que não chegava até mim. De pés no chão e olhos abertos, viajei em silêncio. Senti-me também visita, também parte daquele mar. Em ondas que me chegavam naquela tarde como em tantas tardes. Que me faltava, por que não me aproximei antes deste mar? Quero mais uma vez te namorar, e agora é para valer.

Fotografia: praia de Copacabana vista do alto do Pão de Açúcar.