sábado, 30 de janeiro de 2016

Viagens Extraordinárias e livros que incentivam a rodar o mundo

Descobri Júlio Verne quando criança, num sebo aonde fora levado por minha mãe. De Verne foram os primeiros "livros de adulto" (ou seja, livros com mais texto que ilustrações) que me lembro de ter lido.
A verdade é que, embora hoje algumas das suas previsões mais ousadas estejam, digamos, ultrapassadas, são obras que não perderam o brilho. Ao contrário, têm se renovado. Afinal, continuam sendo lançadas novas edições e adaptações para A Volta ao Mundo em 80 Dias, Viagem ao Centro da Terra, Vinte Mil Léguas Submarinas e outros tantos.
Júlio Verne não foi só um escritor de sucesso, foi também um autor bastante prolífico: ao longo de mais de quarenta anos, publicou dezenas de Viagens Extraordinárias - esse era o título da série de livros que lhe deu fama.
O interessante, aqui, é que esses livros tinham todos os ingredientes básicos para atrair uma criança como a que era eu. Ou, de outra forma, é possível encontrar neles sementes que ajudaram a moldar meus gostos (e não falo só do gosto por livros) e meu caráter. As Viagens Extraordinárias tratam basicamente de aventuras (talvez uma das formas mais infalíveis de se prender o leitor), ciência (não à toa, Júlio Verne é considerado um precursor da ficção científica) e viagens (lugares longínquos, descrições geográficas, históricas e antropológicas). E sempre com tiradas de humor e de romance. Cada história se passa num lugar diferente - seja a África, a Rússia, o céu ou o fundo do mar. Os personagens costumam ser de nacionalidades diferentes, e com características quase sempre aderentes à nacionalidade (de forma um pouco estereotipada para um crítico dos dias de hoje, mas ainda assim válida) - o inglês é metódico e preciso, o francês perto dele é irreverente e despreocupado, o estadunidense é empreendedor, o nórdico é de poucas palavras e absolutamente leal. E, claro, as referências ao desenvolvimento científico e tecnológico são marcantes - a ida à Lua, o submarino, cálculos físicos e análises geológicas estão todos lá.
 Se não propriamente um aventureiro, cresci meio cientista e viajante. Cheguei à conclusão de que toda viagem pode ser extraordinária. E apreciador de livros, incluindo os de Júlio Verne.
Daí que, visitando Paris, a Renata me presenteou com algo realmente fantástico: uma edição especial de Vinte Mil Léguas Submarinas em seu idioma original. Eu já teria adorado ganhar a mais humilde das edições; pois essa é recheada com todo tipo de maravilha relativa ao romance: a planta do Nautilus, o mapa da viagem, fac-símiles das ilustrações originais e de manuscritos do autor. E tudo isso das mãos da mulher que eu amo cada vez mais, minha mais completa viagem extraordinária.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Krtek, a toupeirinha

Krtek - literalmente a Toupeira - é um personagem de desenho animado tchecoslovaco ou, mais precisamente, tcheco (seu criador é tcheco e e ela nasceu em Praga mas, na época, o que existia era a Tchecoslováquia e os dois atuais países da região eram ainda mais ligados do que hoje). Trata-se de um desenho singelo, simpático, voltado para crianças mas fácil de cativar gente grande como nós. No final das contas, mesmo sem nunca termos visto a Toupeirinha quando pequenos (a Guerra Fria contribuiu para deixar muitas coisas longe de nós por muito tempo, e mais coisas ainda longe do lado oriental), não há como não se afeiçoar a ela. O clima do desenho lembra um pouco o de alguns desenhos da nossa própria infância, porém sem a maldade que havia (e nem sempre percebíamos) num Pica-Pau ou num Tom & Jerry.
Hoje já é bem mais fácil transitar entre os dois lados da ex-Cortina de Ferro, e assim a Toupeirinha não só viajou o mundo como já virou até astronauta, numa das missões do ônibus espacial Endeavour! Infelizmente não é fácil achar vídeos dela no Youtube, mas pesquisando a fundo no Google às vezes se encontra alguma coisa.
Enfim, no nosso caso, conhecemos a Toupeirinha enquanto andávamos por terras tchecas e eslovacas. Ela está na televisão dos dois países, assim como está nas livrarias e em referências diversas (camisetas, bonecos, bonés) das cidades de lá. A Toupeirinha é um tanto atrapalhada, mas tem bom coração. Sua curiosidade às vezes a coloca em confusão; em compensação, sempre há algum amigo disposto a ajudá-la.
Foi amor à primeira vista, claro. Como resultado, nós a trouxemos para casa, onde ela imediatamente faz amizade com o Puffin. Hoje, onde um vai, vai o outro junto! Aliás, quando soube que eu estava escrevendo sobre a Toupeirinha, o Puffin fez questão de deixar uma mensagem para ela. Aqui vai: próóóóóó!!!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Guia Puffin de Gastronomia 2016

Depois do sucesso da primeira edição do Guia Puffin de Gastronomia, chegou a hora de apresentar os melhores restaurantes do ano que se passou! 2015 teve grandes viagens e mesas dignas de nota. E, assim, a Renata e eu não poderíamos nos furtar à difícil (e agradabilíssima) tarefa de listar os restaurantes que mais nos encantaram. A seleção deste ano teve até cédula de votação preenchida pelos jurados!
Foi adotado o critério de que as casas que apareceram na edição anterior não entrariam na lista desse ano para, assim, dar oportunidade às nossas novas descobertas. Então, relembrando, o Guia Puffin de Gastronomia distribui entre uma e três enguias para os estabelecimentos que proporcionaram as mais excepcionais experiências gastronômicas - incluindo na avaliação a comida, o ambiente, o serviço, enfim, a experiência completa. Na lista passada, o Olympe, no Rio de Janeiro, e Le Louis XV, em Mônaco, foram os agraciados com três enguias.
Enfim, sem mais delongas... a edição 2016 do Guia Puffin de Gastronomia!

Oui Oui, Rio de Janeiro - 1 enguia
Cozinha: Roberta Ciasca
É um restaurante acolhedor e relativamente simples, com cara de bistrô. Os pratos escolhidos no menu podem ou não ser compartilhados. A proposta é que, como os itens em geral não são grandes, é possível montar uma pequena degustação combinando algumas das diversas opções oferecidas.
Particularidade: a chef também comanda outro restaurante, o Miam Miam, no mesmo bairro (Botafogo).

CT Brasserie Fashion Mall, Rio de Janeiro - 1 enguia
Cozinha: Claude e Thomas Troisgros - chef convidado: Batista
A família Troisgros aparentemente comanda alguns dos melhores lugares para se comer bem no Rio de Janeiro (sim, o Guia Puffin é fã da sua cozinha, afinal este é o terceiro restaurante Troisgros listado!). O CT Brasserie é um restaurante de shopping (na verdade, são dois restaurantes, cada um num shopping da cidade), e isso faz com que ele seja relativamente informal, sem deixar de ser muito agradável.
Particularidade: conforme entreguei aí acima, quem comandou a cozinha na noite de nossa visita foi o Batista, o simpático braço-direito de Claude Troisgros. Era a estreia dele no controle do cardápio, que ganhou um sotaque tão nordestino quanto o próprio Batista - e ganhou também nossa total aprovação.

Manu, Curitiba - 2 enguias
Cozinha: Manoella Buffara
Que haja um restaurante do nível do Manu fora do eixo Rio-SP é uma bela notícia. Uma cozinha autoral bastante criativa, com uma sequência de pratos bem-elaborada, que nos conquistou desde o primeiro bocado. Saímos de lá mais que satisfeitos e, ao mesmo tempo, com vontade de recomeçar.
Particularidade: a chef comanda pessoalmente a cozinha e, ao final do serviço, veio conversar pessoalmente conosco. Este tipo de atenção, na opinião do Guia Puffin, faz toda a diferença!

Eleven, Rio de Janeiro - 2 enguias
Cozinha: Joachim Koerper
Eleven é um premiado restaurante português que abriu em 2015, no Rio de Janeiro, sua primeira filial. O cardápio tem alguns toques portugueses, mas é essencialmente contemporâneo. O atendimento que tivemos foi particularmente notável.
Particularidade: o chef é alemão, casado com uma brasileira, e comanda a matriz do restaurante em Lisboa. Com uma mistura dessas, não surpreende que tenha aterrissado no Rio de Janeiro!.

Tegui, Buenos Aires (Argentina) - 2 enguias
Cozinha: Germán Martitegui
Ultrapassando a entrada discreta, chega-se a um salão amplo e elegante onde provamos um cardápio repleto de ingredientes naturais típicos da culinária argentina preparado com um olhar inovador. Apenas para dar uma ideia: pão de erva-mate no couvert, mollejas como eu nunca tinha provado antes, a melhor cremona de nossas vidas... Até a alface era indescritível.
Particularidade: o chef Germán Martitegui é um dos jurados do Masterchef Argentina (que, diga-se de passagem, está muito acima da versão brasileira do programa). Ao chegar à mesa, um cartão dizendo que "o que acontece no Tegui fica no Tegui" pede que se evitem fotos.

Lasai, Rio de Janeiro - 2 enguias
Cozinha: Rafa Costa e Silva
Quando poderíamos sonhar com uma comida desse nível tão perto de casa que se pode ir a pé! O restaurante funciona num casarão amplo e o cardápio consiste numa maravilhosa sequência de degustação, daquelas que não saem facilmente da cabeça. A apresentação de cada prato é particularmente bonita e criativa.
Particularidade: ao chegar, somos convidados a subir para o terraço, ao ar livre, onde servem os primeiros aperitivos. Depois, passamos para nossa mesa no salão. Entre o terraço e o salão, passamos pela cozinha, impecável!

La Degustation Bohême Bourgeoise, Praga (Rep. Tcheca) - 2 enguias
Cozinha: Oldřich Sahajdák
No centro da bela cidade de Praga, o restaurante se esmera na criação de um menu a partir de produtos tchecos. Oferece, assim, versões elevadas de pratos que são, de certa forma, típicos da região: ingredientes nobres da culinária internacional estão presentes mas, muitas vezes, quem brilha mesmo é a beterraba ou o salsão.
Particularidade: provamos o menu degustação harmonizado com sucos, o que acrescentou ainda mais sabor à experiência.

Maaemo, Oslo (Noruega) - 3 enguias
Cozinha: Esben Holmboe
Este restaurante é certamente uma experiência inesquecível. Elegante e impecável em cada detalhe. Perdemos a noção do tempo (nossa refeição começou à tarde e foi terminar já de noite, sempre sob a luz do sol noturno escandinavo), mas sabíamos que estávamos em boas mãos, com o ritmo dos pratos se sucedendo à perfeição, harmonizados com sucos igualmente perfeitos. O cuidado no atendimento e na apresentação dos pratos é dos melhores que já vi. Cada preparação (sempre com ingredientes frescos) tem uma motivo e uma história que nos é contada com paixão. Mesmo sofisticado, o restaurante consegue mostrar raízes bem definidas na comida norueguesa tradicional.
Particularidade: como o restaurante fica num segundo andar, um pouco escondido de quem passa, ainda no meio da rua fomos surpreendidos pelo recepcionista que nos esperava chamando pelo nome. Depois, no meio da sequência de degustação, num intervalo providencial, somos convidados a visitar a cozinha e conhecer cada um dos responsáveis pelos pratos daquele dia.