De certas maneira, os turcos possuem duas religiões. Uma é o Islamismo que, claro, convém respeitar. A outra, que também não deve ser contrariada de forma alguma, é o ataturquismo.
Kemal Atatürk. Literalmente: Kemal, o Pai dos Turcos. Foi o fundador da República da Turquia, presidente do país nas décadas de 1920 e 1930 e incentivador de uma série de reformas relevantes no sentido de modernizar o país - incluindo a separação entre religião e estado e a adoção do alfabeto latino como uma das formas de facilitar o aprendizado da escrita.
E daí?
O que acontece é que, mesmo hoje, essa figura progressista e ditatorial, espécie de Getúlio Vargas turco, está por todos os cantos. Ai de quem desrespeitar Atatürk. Seu rosto está em todas as cédulas de dinheiro (cada cédula tem duas efígies: Atatürk de um lado, "um qualquer" do outro). Está em fotos nas paredes de lojas, restaurantes, prédios. Em bandeirinhas empunhadas pelas crianças. Em cartões-postais vendidos nas bancas.
Qualquer turco sabe de cor o exato instante da morte de Atatürk (9h05 de uma manhã de novembro) e, segundo contam, todo ano o país pára nessa data para reverenciar seu herói.
Atatürk está em estátuas nas praças, no nome do principal aeroporto, do maior estádio de futebol e da ponte mais central de Istambul. Uma lei proíbe que se fale mal de Atatürk. Tenho um pouco de medo das unanimidades, mas quem sou eu para contrariar a lei?