Esta é a primeira vez que venho a um país sem antes realmente me esforçar para aprender pelo menos um pouco da sua língua. Pudera. Há um limite para minha memória e para minha capacidade de aprendizado! Considerando que nos últimos meses tive de me dedicar a outros estudos e que esta viagem engloba quatro países e quatro línguas diferentes, acabei estabelecendo algumas prioridades. E sempre há o inglês para quebrar o galho quando necessário...
Isso não quer dizer que não tive curiosidade ou não me interessei em saber um pouco de turco. Mergulhar numa outra língua sempre é enriquecedor, ainda mais quando se trata de uma língua e um país tão cheios de história.
Sim, fiquei no básico: olá (o onipresente "merhaba", palavra que serve para quase tudo aqui), bom dia, por favor, muito obrigado, mais aquelas palavras que são figurinha fácil em cardápios, cartazes e avisos. Mas também aprendi coisas curiosas. Por exemplo: até o século passado, o turco era escrito com o alfabeto árabe. Foi Atatürk que, como parte do seu plano de expandir a educação no país, propôs a adoção de uma variante do alfabeto latino. Com dois argumentos: primeiro, que os sons da língua turca seriam de representação mais natural pelo nosso alfabeto que pelo alfabeto árabe; segundo, que a mudança facilitaria o aprendizado, sendo portanto uma maneira de combater o analfabetismo.
Suponho que Atatürk estivesse certo, mas imagino a revolução que isso deve ter causado, ainda mais quando por trás de tudo há a questão religiosa (o árabe, afinal, é o alfabeto "oficial" do Corão). E nós que já sentimos a diferença quando retiraram alguns acentos da nossa gramática!
Ah, os acentos! Ou melhor, os sinais gráficos. O turco está cheio deles: tremas, cedilhas e outros, seja acompanhando vogais ou consoantes. O ç, por aqui, tem um som de tch. O s, ao receber um cedilha (ş), tem seu som modificado para um ch.
Porém, o mais curioso, na minha opinião, é o i, que pode ser com ou sem ponto, tanto maiúsculo quanto minúsculo: i, İ, ı, I. A maior cidade do país, por exemplo, chama-se İstanbul (e não Istanbul) em turco.
Notem que o que usamos na nossa língua é um meio-termo: minúscula com ponto, maiúscula sem ponto. Digitar endereços de Internet num computador turco dá trabalho, o ı (sem ponto) ocupa o lugar onde costumamos encontrar o i (com ponto).
Mas a questão não é só de digitação, é gramatical mesmo. Aquele pinguinho no i, que em português é praticamente só um adereço, pode mudar a pronúncia e o significado de uma palavra em turco. Acaba sendo divertido reparar que em algumas palavras usa-se o ponto e em outras não.
E assim vão-se descobrindo os detalhes mais inesperados... Mas, por ora, "sonra görüşürüz" - ou seja, até logo!