Zagreb, na Croácia. Eis uma cidade sobre a qual tenho achado difícil escrever.
Provavelmente porque não é um lugar de rótulos minimalistas. Não vejo como enquadrar Zagreb num único adjetivo.
Afinal, bem ou mal, trata-se da capital de um país, e as capitais costumam ser uma mescla de gentes, sotaques, culturas. Diferentes formas de viver gravitam em torno das capitais. Zagreb não foge à regra.
Tenho conversado com gente do interior que veio tentar a vida aqui. E com gente que, mesmo nascida e criada em Zagreb, quer tentar a vida no exterior. E também com gente de Zagreb que não tem a menor vontade de ir embora.
Zagreb não tem as cores e os reflexos de
Ljubljana, não tem as praias do litoral croata, não tem o exotismo de
Istambul. Mas tem um charme que está nas pequenas coisas. Não é uma cidade para uma grande-angular, é cidade para ser vista de lupa.
É uma cidade grande para os padrões do país, mas é menor que a maioria das capitais dos estados brasileiros. Tamanho bom para explorar em detalhes.
E não tem muitos turistas. Ao menos não nesta época do ano. Aqui no albergue, há apenas duas pessoas hospedadas - eu e um rapaz que não cheguei a descobrir de onde é. Mais cedo, entrei numa loja bem no centro da cidade e acabei conversando um bom tempo com a moça que trabalhava lá. Falamos sobre a vida na Croácia e no Brasil, sobre o clima (o que é diferente de falar sobre o tempo), economia, trabalho, estudos, literatura. Ela me mostrou o livro de um autor croata que recém tinha comprado num sebo e que estava lendo. Lia na loja: segundo me contou, eu era a segunda pessoa a entrar ali durante toda a manhã...
Pelo menos uma coisa me pareceu familiar em Zagreb. A cidade tem uma grande praça, a Jelačićev Trg, típico cartão-postal de cidade média, com monumento ao centro, que é o centro de confluência dos bondes que circulam aqui. A praça fica bem ao lado da Cidade Alta (
Gornji Grad). São detalhes que me lembraram
Lisboa e suas praças - o Rossio, a Praça da Figueira... Mas uma coisa interessante sobre a praça de Zagreb é que o monumento (homenagem ao tal Jelačić, antigo governador croata) serve de ponto de encontro para a população. Literalmente: basta uma caminhar pela praça para perceber umas quantas pessoas em volta da estátua. Sempre tem alguém esperando alguém, e sempre tem alguém que chega (curiosidade: aqui os homens se cumprimentam com beijo no rosto, mas um homem e uma mulher se cumprimentam apertando-se as mãos). São os encontros de Zagreb. Como nas cidades de interior, aquelas onde a vida gira em torno da praça.