Hoje me ocorreu alugar uma bicicleta. Vinte liras por uma magrela (para usar uma gíria que não é minha) até as três horas da tarde.
Pareceu - e realmente é - uma boa forma de conhecer um pouco da Capadócia. Os vilarejos estão separados por distâncias de três ou quatro quilômetros. Esse também é o percurso suficiente para que a paisagem mude significativamente. Considerando que as estradas, na maioria das vezes, são razoavelmente planas, é território perfeito para uma bicicleta.
Em Pasabagi, impressionantes estruturas de turfa e basalto. Em Zelve, mais paisagens para deixar meus amigos geólogos babando (ah, os afloramentos!). Em Çavusin, uma simpática vila que contém nada menos que uma cidade antiga e abandonada, feita de vários andares escavados na pedra. Incrível!
Já no caminho de volta, tomo um desvio para visitar mais um dos vales que aparecem no mapa.
É uma estrada de chão batido que passa pelo curioso "Vale do Amor", onde o que se vê são, bem, esculturas naturais de pênis gigantes!
Decido continuar pela estrada de terra, que vai sempre descortinando vistas diferentes e que, segundo o mapa, termina bem perto da cidade onde estou hospedado.
Agora, lembrem que nevou no dia anterior, o que significa que o chão está ou molhado ou coberto por gelo. Além disso, o que era uma estrada de terra vai se transformando numa estreita trilha por onde não passa mais que uma pessoa por vez. Há momentos em que seguir adiante é realmente difícil. Volta e meia dou uma olhada no GPS do iPhone (esse brinquedinho tem valido cada centavo que paguei por ele), até que estou avançando bem. Um dos meus medos era molhar os pés, mas, graças a Deus, minhas botas são melhores do que eu pensava. Então surge o pavor dos exploradores de trilhas: de repente, a trilha some! perde-se num emaranhado de árvores caídas talvez num dos vendavais dos dias anteriores. Olho em redor, porém não há alternativa a não ser voltar. Meu medo passa a ser não conseguir fazer o caminho a tempo, mas ao menos percebo que este medo é exagerado. Embora o vento tenha aumentado, o caminho de volta parece mais fácil, certamente porque agora a trilha vai se alargando à medida que avanço. Chego a Göreme com uns bons minutos de folga e com tempo suficiente para almoçar (estou faminto!) antes de ir para o aeroporto.