Se me perguntarem como eu vim parar na Eslovênia, acho que precisarei de bastante tempo para explicar. A Eslovênia não é um destino popular no Brasil. E a resposta de por que eu vim até aqui envolve uma amizade de 15 anos, um interesse crescente pela história complexa da ex-Iugoslávia (acho que poucos lugares condensam tantas culturas, religiões, orgulhos e conflitos quanto os Bálcãs), um voo cancelado, uma curiosidade linguística e, claro, os relatos e as fotos de um lugar que é uma pequena joia.
Certo, expliquei nada ou quase nada, mas a ideia era essa mesmo: descobrir a Eslovênia é como montar um quebra-cabeça com partes que, a princípio, não vemos como poderão se encaixar. Mistura de língua e cultura eslavas com o relevo dos Alpes, um país pequenino que parece guardar tantas similaridades com seus vizinhos iugoslavos e, ao mesmo tempo, lembra muito o que imaginamos de países como a Áustria e a Alemanha.
Mas não se pode chegar a uma conclusão sobre o país em tão pouco tempo. Por outro lado, pode-se, por exemplo, formar uma opinião (ainda que possivelmente prematura) sobre a capital e porta de entrada.
Ljubljana definitivamente não é uma cidade grande, mas é uma cidade simpática. Não se veem hordas de turistas se acotovelando em praças ou museus. E os turistas que se veem, na sua maioria, falam esloveno.
Ljubljana, ao menos nesta época do ano, tem uma luz que me surpreendeu. Uma paleta de cores de outono ou de inverno que faz a cidade parecer uma pintura. Ninguém precisa de Fotoshop para suas fotos de Ljubljana, a cidade é mesmo dessa cor que se vê. E as sombras... A luz do inverno parece dar a toda hora do dia um encanto de pôr-do-sol. Lindo, mais lindo ainda nos reflexos que o rio devolve à cidade.
Colorida, Ljubljana é uma cidade em forma de coração. No sentido figurado, que é o mais bonito: seu nome significa algo como "a amada" e está relacionado com o amor na maioria das línguas eslavas.
Além disso, há o dragão, mascote da cidade que está por todos os lados. Embora pareça não combinar com o amor, é um dragão simpático, personagem de uma série de lendas. A primeira e mais sisuda envolve Jasão e os argonautas. Outra diz respeito à ponte que é ladeada por quatro estátuas do dragão: segundo a lenda, o dragão balança o rabo quando uma mulher virgem passa pela ponte. Longe de mim querer falar qualquer coisa das eslovenas mas, até onde pude ver, o rabo do dragão pareceu tão imóvel quanto, bem, uma estátua.
Outra lenda, ainda, diz que o dragão de Ljubljana aterrorizava a cidade, até que conheceu uma dragoa, casaram, tiveram um filho, e o filho, em vez de seguir a tradição familiar de impor medo aos humanos, resolveu virar o primeiro dragão artista de que se tem notícia. Conto de fadas? Pode ser. Mas que outra coisa se esperaria de uma cidade com uma luz dessas?