terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Guia Puffin de Gastronomia 2024

Diz a sabedoria popular: "antes tarde do que nunca" e "a vida é muito curta para se comer e beber mal". Sendo assim, puxem uma cadeira que o almoço está servido. No cardápio, o Guia Puffin de Gastronomia 2024, publicação que, desde 2015, inspira e reconhece a boa comida!

Zingo e Ringo, São Paulo - 1 enguia
Um ambiente relativamente despojado, mas de muito bom gosto, com comida e decoração inspirados na Síria.

Al Sahaby Lane, Luxor (Egito) - 1 enguia
Uma bela surpresa escondida no terraço de uma pousada na margem direita do rio Nilo. Comida tradicional egípcia bem preparada e com tudo a que se tem direito.



Metzi, São Paulo - 1 enguia
Oferece um longo e delicioso menu degustação de comida mexicana contemporânea. Os pratos são irrepreensíveis; o salão, infelizmente, pode ser bem barulhento.

Les Berges de Seine, Paris (França) - 1 enguia
Outra surpresa que foge um pouco do roteiro gastronômico tradicional, este é um restaurante no hotel Les Quais de Lutèce, no Parc Astérix. Já na chegada chama a atenção pela decoração bem humorada e com inúmeras referências às histórias do herói gaulês. Serve tanto café-da-manhã quanto jantar, ambos com comida farta e de boa qualidade - como se esperaria de um belo banquete numa certa aldeia da Armórica.

O Escandinavo, São Paulo - 1 enguia
Uma das características de São Paulo é a variedade de restaurantes que oferecem comida de vários lugares do país e do mundo, reflexo da quantidade de imigrantes que a cidade tem recebido. No caso d'O Escandinavo, a chef é brasileira, mas o menu e a decoração remetem aos países nórdicos. Tudo é pensado para que a refeição seja um passeio pela cultura de Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia e Ilhas Faroé. De quebra, o menu degustação é harmonizado com sucos, uma combinação rara em nosso país.

Nelita, São Paulo - 2 enguias
chef Tássia Magalhães oferece um menu de comida italiana contemporânea dos mais saborosos. O menu degustação é oferecido num balcão em frente à cozinha, de onde se pode ver toda a finalização dos pratos.

Rasoi by Vineet, Manama (Barém) - 2 enguias
Vinnet Bhatia é um "chef celebridade" com alguns restaurantes pelo mundo. Coincidência ou não, sua fama cresceu na época em que foi citado na primeira edição do Guia Puffin de Gastronomia! Ao provar sua especialidade (cozinha indiana contemporânea) no Rasoi, vê-se que a fama é merecida.
Table, Paris (França) - 2 enguias
Este restaurante do chef Bruno Verjus teria tudo para ser um digno representante da alta gastronomia francesa, mas com uma peculiaridade: o criativo e saboroso menu, preparado na nossa frente, é servido não em mesas extravagantemente decoradas, mas num ambiente despojado. Uma curiosidade: no mesmo dia em que recebeu a visita dos avaliadores do Guia Puffin, chegaram para jantar o presidente da república e a primeira-dama! Segundo fontes, o chef quase ficou em dúvida sobre qual mesa mereceria mais atenção, mas então viu que em apenas uma delas havia bico laranja.


Ossiano, Dubai (EAU) - 3 enguias
Como muita coisa em Dubai, este restaurante é de cair o queixo - um ambiente elegante de frente para um gigantesco aquário de água salgada. E não é só aparência: a comida está absolutamente à altura de todo o resto. O francês Gregoire Berger é responsável pelo menu, pensado como uma verdadeira viagem culinária.



Field, Praga (Rep. Tcheca) - 3 enguias
Jantar no Field, do chef Radek Kašpárek, é provavelmente o melhor programa para uma noite chuvosa de outono em Praga (na verdade, para qualquer noite em Praga). O espaço é amplo, mas com uma decoração intimista, excelente para uma refeição a dois. A comida valoriza ingredientes locais tchecos, preparados com primor. Tudo com uma grande atenção aos detalhes que dá vontade de voltar mais vezes. Ah, se a vida não fosse tão curta para tanta comida boa a ser experimentada!



Menção honrosa
Doces da confeitaria francesa feitos com framboesas frescas!

terça-feira, 12 de março de 2024

Sítios maias em Belize

Belize pode não ser o país com o maior número de sítios arqueológicos maias, mas, dado o seu tamanho, é provavelmente o que tem a maior concentração deles, e com o bônus de que são, em grande parte, facilmente acessíveis para visitantes como nós.

A maioria destes sítios está localizada no distrito de Cayo, no centro-oeste do país; não por acaso, é a região que fica na fronteira da Guatemala e que teve mais influência da colonização espanhola. Cruzando a fronteira estão as antigas cidades maias do lado guatemalteco, entre as quais se destaca a gigantesca Tikal. Cabe esclarecer que os maias não tinham uma organização como um império centralizado; pelo contrário, o que havia era um conjunto de cidades-estado que compartilhavam uma cultura similar, comercializavam e (ó ambição humana!) guerreavam entre si. Tikal foi, durante muito tempo, uma das mais poderosas destas cidades. Sua maior rival era Caracol, no lado belizenho (curiosamente, Guatemala e Belize também se envolveram em disputas diplomáticas por essas mesmas terras).

Caracol é, hoje, o maior sítio maia de Belize. É também um dos que têm acesso mais difícil. Chega-se lá através de uma estrada de 83 km a partir da moderna (para os padrões belizenhos) cidade de San Ignacio. Enquanto que metade dessa estrada é asfaltada, a outra metade é de terra ou de asfalto com buracos. Os relatos são um tanto assustadores: dizem que é impossível atravessá-la sem um bom 4x4, e os contratos das autolocadoras em geral proíbem que se dirija carros comuns neste trajeto. Por via das dúvidas, alugamos um 4x4 para esse dia. No final das contas, a estrada é melhor do que outras que já vimos no Brasil - qualquer carro alto e/ou com suspensão boa daria conta, ao menos durante a época de seca em que estávamos. O bom de alugar um carro em vez de contratar um passeio é que, além de sair mais barato, também tivemos liberdade para paradas adicionais ao longo do caminho: há belas cachoeiras e uma caverna de tirar o fôlego. Quanto a Caracol em si, não é tão grande quanto Tikal, mas é igualmente impressionante. Os templos e estruturas se misturam com a selva, e o coração da gente bate mais forte quando caminhamos no meio daqueles séculos de pedra.

Estrada para Caracol

Caracol

Bem mais próximo de San Ignacio fica outra antiga cidade maia, Xunantunich, que é o sítio arqueológico mais visitado de Belize. Uma de suas particularidades são os belíssimos frisos em relevo do templo principal. E o próprio trajeto para se chegar lá também é peculiar: mesmo sendo de fato perto e fácil de chegar, é preciso atravessar um rio numa balsa movida a manivela!

Xunantunich

De acesso ainda mais fácil são as ruínas de Cahal Pech, situadas numa colina dentro da cidade de San Ignacio. Cahal Pech é sensivelmente menor; enquanto que Caracol ou Xunantunich eram centro urbanos completos e bastante elaborados, Cahal Pech lembra mais um palacete construído para a elite - algo como um Alphaville maia.

Cahal Pech

Saindo um pouco de San Ignacio, acessível de barco pelo rio, chega-se a Lamanai, uma das localidades maias mais longevas - foi habitada continuamente por mais de três mil anos. A posição ao longo do rio dá um toque especial a Lamanai - além da beleza dos templos pode-se avistar uma fauna bastante variada dentro e fora d'água.

Lamanai

Relativamente próximo a Belize City (a maior cidade do país) fica o sítio maia de Altun Ha. Este foi uma cidade de tamanho médio e está hoje muito bem cuidado e conservado. Visitamo-lo ao final da tarde, momento em que a luz torna a paisagem particularmente bonita.

Altun Ha

E, para completar o roteiro maia-belizenho, temos Actun Tunichil Muknal (ATM). Ao contrário dos outros lugares citados, este não é uma cidade antiga, mas uma imensa caverna semi-inundada utilizada pelos maias (ao que tudo indica) para cerimônias religiosas, incluindo sacrifícios humanos. Adentrar esta caverna é quase uma aventura, uma experiência realmente única. Uma visita a ATM envolve mais de uma hora dentro da caverna, na maior parte do tempo com água pela cintura, eventualmente com água no pescoço. Na parte mais profunda se encontram antigos artefatos, como vasos e tigelas, e ossadas humanas.

No caminho para a entrada de Altun Tunichil Muknal

Tudo somado, tem-se um vislumbre de uma cultura quase esquecida por nós hoje em dia, e que no entanto ainda é muito presente na América Central.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Um país chamado Belize


Um país pequeno e pouco povoado bem no meio da América Central, entre o continente e o Caribe. Um lugar que há não muito tempo era uma colônia chamada de Honduras Britânicas - o que supõe um torcicolo etimológico, dado que as “funduras” (profundezas) de Honduras estão no Pacífico, mas Belize só tem costa no Atlântico.

O antigo nome tomado de empréstimo (e que no original, British Honduras, é uma mistura de duas línguas), curiosamente aponta para uma das características marcantes do povo de Belize: a diversidade de culturas. São diferentes etnias, línguas e biotipos convivendo em graus variados de miscigenação e sobreposição. A população negra é maioria no litoral e a ameríndia, no interior. O inglês é a língua oficial e mais falada, seguido de perto pelo espanhol. Também ouvimos distintamente crioulo belizenho, maia e garífuna. Aparentemente todos com quem conversamos são bilíngues ou mesmo trilíngues. Seria Belize a Suíça dos trópicos?

Não em termos de infraestrutura. A de Belize é um tanto precária: casas e vilas extremamente simples (a capital, Belmopã, lembra a menor das cidades do Interior do Brasil), estradas esburacadas (mas com ônibus relativamente frequentes)… E floresta por todos os lados! Dificilmente se está longe do mato, ocasionalmente se está cercado por ele e pela sua fauna. Durante o dia vê-se uma quantidade inacreditável de aves, bugios e outros animais. À noite, o som dos mesmos embala o nosso sono, mesmo na cidade.


No meio da floresta, aqui e ali, ruínas maias. A imagem destas em meio ao verde, com o entrelaçamento das pedras com as raízes das árvores, é de tirar o fôlego. A Guatemala provavelmente tem mais sítios maias, mas em Belize parece que eles estão mais concentrados.


Também no meio da floresta, cavernas, rios e a mistura de ambos (ou seja, rios que correm dentro de cavernas). A natureza foi realmente pródiga aqui. Ainda mais considerando que isso tudo é apenas metade do país: há o mar com suas centenas de ilhas, a maior barreira de corais da América e toda a vida marinha que circula em torno dela. Esta merece toda uma outra viagem (voltada para o mergulho). Diferente, mas de certa forma semelhante: se o azul do Caribe guardar tanta variedade de vida quanto o verde da selva, estaremos bem servidos.