Nós, seres humanos, não somos preparados para lidar com o desconhecido. Confesso que, quando tomei a decisão de vir para a Turquia, fiquei empolgado, mas também um pouco apreensivo. Apreensão que só crescia quando tomei o avião e quando sobrevoei o Mármara, ali a uma braçada da Ásia, já na aproximação final para o pouso em Istambul.
Pois o pouco que vi da cidade até agora tem me conquistado. Istambul é... difícil impor um veredicto a uma cidade, qualquer que seja ela. Sou tentado a descrever Istambul assim: é uma Roma com aroma de especiarias. Quero dizer, uma cidade que transborda história e que, além disso, possui um tentador toque de exotismo sem, no entanto, passar da conta.
Afinal, quantos países podem se dizer uma democracia laica de maioria muçulmana?
Quantas cidades já mudaram tantas vezes de nome e de tradições, mas sempre tendo papel de protagonista na História?
Quantas cidades podem dizer que abraçam dois continentes, não apenas geográfica, mas também culturalmente?
A primeira coisa que chamou minha atenção foram os minaretes das mesquitas. Depois, o intrincado quebra-cabeças da língua turca (não estou acostumado a viajar para um lugar em que não conheço o idioma). Às 18h, os muezins começaram a chamar para as orações - tão diferente e tão parecido com os sinos das nossas igrejas. Tão, tão parecido.
Nessa hora, escurecia e começava a fazer frio. Descobri duas coisas indispensáveis na noite de Istambul. A primeira é um par de luvas. A segunda é uma bebida vendida em todo canto por duas liras (a lira turca, por uma bondade divina, vale praticamente o mesmo que um real, dispensando cálculos mentais de conversão). Trata-se de algo parecido com um cuscuz branco (não consegui descobrir de que é feito), doce, temperado com canela e servido quente em copos de isopor. Aquece as mãos e queima a língua. Eis Istambul, desafio e convite aos sentidos.