sábado, 23 de maio de 2009

Voltando para casa

A despedida, o final da viagem e das férias...
Costuma ser um dos momentos mais doloridos. É quando nos arrependemos de não termos feito isto ou aquilo, de não termos visitado este ou aquele lugar. É quando as tarefas da "vida real" surgem com sua face mais chata nos lembrando de que o mundo não parou enquanto estávamos fora e de que há muito trabalho à nossa espera...
Mas eu, como otimista que sou, gosto de pensar no outro lado de tudo. O final de uma viagem, por melhor que ela tenha sido, é sempre o início de uma próxima viagem. E partimos mais ricos de lembranças, de experiências, de aprendizados. Vários apendizados: da genealogia dos reis portugueses ao catálogo dos doces conventuais, da melhor forma de lavar e secar roupa num quarto de hotel à forma, sempre aperfeiçoada, de conviver dentro e fora deste mesmo quarto durante dias seguidos.
A viagem continua nos livros a serem lidos, nos discos a serem ouvidos, nas histórias a serem relembradas sempre com uma nova cor. Escrevo, já em casa, ouvindo um fado. Com o coração agradecido a este país que proporcionou tantas descobertas.

Fotografia: rosa-dos-ventos em Belém, Lisboa.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A noite com música é melhor


Fado.
De quem vem a Lisboa, a Portugal.
Ontem fomos assistir a uma apresentação de fado. Emocionante. Uma noite daquelas que vivemos já sabendo das saudades que teremos e já imaginando as recordações que guardaremos.
Era um restaurante instalado num antigo prédio da Alfama, um dos bairros mais tradicionais da cidade. A comida, portuguesa, muito boa. A música, como tinha de ser, com os ingredientes que se imagina de um bom fado: tocada e cantada entre as mesas, à meia-luz, com elegância na voz, no dedilhado, nas roupas, na postura. Um fado que, assim como o tango, nasceu marginal e hoje é estrela de uma noite que se faz cosmopolita em salas e ruas que abrigaram mouros e cristãos, lendas e histórias, artistas e... mais artistas. Porque, segundo dizem, ser fadista não é apenas cantar o fado, é também ouvi-lo. Ou senti-lo.

terça-feira, 19 de maio de 2009

A Vida Portuguesa

Estamos em Lisboa, e aqui há bastante coisa para se ver. É uma ótima cidade para se estar e para se passear.
Na verdade, trata-se do meu retorno à capital portuguesa. Eu havia estado aqui durante apenas um dia; agora, com mais tempo, estou conhecendo mais, aproveitando melhor e gostando demais.
No meio de todas as atrações túristicas inevitáveis (as igrejas, os bondes, a torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos etc.), descobrimos, aqui e ali, pedaços de uma vida pitoresca. O mais marcante são as roupas estendidas em varais na janela dos apartamentos. Estão por toda a parte: às vezes são coloridos, às vezes são divertidos, sempre são inusitados.
Outra descoberta é uma loja chamada A Vida Portuguesa. É pena que eu não tenha como publicar imagens agora, mas levarei as fotografias para o Brasil: trata-se de uma loja com fascinantes produtos vintage. Sabonetes antigos, loções, brinquedos típicos de décadas atrás, enlatados (sardinha, azeitonas, atum), cera para piso de madeira, livros, fotografias... Algo como os pais portugueses do talco Granado e da pomada Minâncora. Tudo bem arrumado num prédio antigo e inundado por música, claro, de décadas atrás. Ah! Se eu, que não vivi nada disso, fiquei encantado, imagino que haja pessoas que se emocionem ao ver tantas memórias reunidas assim!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Vidro, barro e cerâmica

O que há para comprar em Portugal? O forte, sem dúvida, são as garrafas e as peças de cerâmica - azulejos, vasos, pratos, jarros etc. Há peças lindas, com diversos desenhos, algumas bastante coloridas.
O problema: ficamos com vontade de fazer compras e mais compras, mas como acomodar tudo na mala? Este tipo de peça é o que há de mais frágil e, portanto, menos recomendável para levar de lembrança de uma viagem! Ainda mais quando se trata de uma viagem que inclui diversos trechos de avião e outros tantos de trem...
A solução, como sempre, é um meio termo: não resistimos a imaginar nossas casas decoradas com um vaso ou azulejo e a arranjar lugar para tanto nas malas, por difícil que possa parecer. (E garanto que na hora de fechar a malas, assim como na hora de colocá-las no trem, parece realmente difícil.) Mas as peças maiores e mais impressionantes voltarão conosco apenas na lembrança - contribuem para formar um painel de sensações que, felizmente, é fácil e prazeroso de se carregar.

domingo, 17 de maio de 2009

Doces portugueses

Pastéis de nata, bolinhos de D. Amélia, ovos moles, cornucópias, jesuítas... São tantas as opções de doces! E cada um deles corresponde a uma tentação quase irresistível...
Em praticamente todas as cidades é muito fácil encontrar uma pastelaria - que corresponde, aproximadamente, a uma confeitaria no Brasil. É entrar, dirigir-se ao balcão, onde estão expostos os quitutes, escolher e se deliciar. Estes doces têm sido nossa sobremesa, às vezes nosso lanche, e às vezes ainda levamos alguns para comer à noite, no quarto do hotel...
Os pastéis de nata são os famosos pastéis de Belém (mas que só são genuinamente de Belém quando feitos neste bairro lisboeta). Os de D. Amélia são típicos da ilha Terceira, nos Açores; o nome é referência à imperatriz do Brasil e rainha de Portugal, segunda esposa de D. Pedro. Ovos moles são típicos de Aveiro e se encontram nas mais diversas formas e como recheios de diferentes delícias. E há ainda tantos que sequer sabemos o nome! São inúmeros os doces à base de ovo: os chamados doces conventuais, que nasceram das mãos das freiras nos conventos.
Assim vamos fazendo a nossa viagem dos sentidos - dando ao paladar uma posição de honra.
E, com a licença de vocês, preciso atacar um pastel de natas, que este texto me deixou com água na boca!

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Caminhando por ruas medievais

Chegamos, enfim, a Óbidos.
Óbidos é, como dizem os livros de viagem, uma encantadora cidade cercada por muralhas medievais. Num extremo está o seu castelo. As ruas seguem o traçado original, as paredes são brancas e floridas... E há turistas. Muitos turistas, falando diferentes línguas, fotografando e circulando entre lojas de artesanatos. Lembra a cidade de Parati, no litoral fluminense - embora cada uma tenha suas particularidades, é claro.
Óbidos: um lindo lugar para se ver uma vila medieval. Mas... Eu diria apenas para 'ver'. Porque a ilha do Corvo, aquela sim, é um lugar para se 'sentir' uma vila medieval. A diferença? Na ilha, as ruas e as construções parecem mais autênticas, moldadas às necessidades dos habitantes e não reformadas de acordo com e estética do turismo. As pessoas realmente vivem daquela maneira, com o que a terra dá, os quintais são repletos de plantações e de animais, não de lojas de suvenires, e até mesmo as fechaduras das portas são únicas. Óbidos é mais fotogênica que isto, sem dúvida: restaurada e conservada, colorida, parece não ter um único beco cheirando mal. Mas qual delas, Óbidos ou Corvo, qual será que permite sentir melhor como se vivia séculos atrás?
Talvez cada uma tenha sua graça. Eu tenho medo de que o Corvo se transforme num lugar como Óbidos. Assim como Óbidos não precisa se transformar no Corvo.

Fotografia: vista de Óbidos.

Padaria?

Em Coimbra, como em algumas outras cidades por que passamos, estávamos procurando um mercado para, à noite, fazermos um lanche rápido. Com o tanto que temos comido durante o dia, um sanduíche às vezes é mais que suficiente para o jantar.
Acontece que, perto de onde estávamos, não encontrávamos lugar algum onde comprar pão e frios. Ainda mais depois das seis da tarde, quando tudo parece fechar.
Até que surgiu na nossa frente a Padaria Popular. Entramos, mas o lugar parecia mais bar que padaria. Perguntamos. A resposta foi mais ou menos assim:
- Não há pão. Isto é um 'snack bar', 'Padaria' é só o nome do estabelecimento.
Pois é, desculpem-me os portugueses, mas tivemos de vir a Portugal para encontrar uma padaria que não vende pão!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Coimbra

Vista noturna da cidade de Coimbra - fotografada da janela do nosso quarto...

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A menina da ria

Aveiro, a 'Veneza portuguesa'. Eis uma cidade deliciosamente feminina.
Para começar, ela é banhada não por um rio, mas por uma ria - assim chamam uma espécie de lagoa-estuário nesta região do país.
Aveiro é elegantemente feminina quando se veste de pontes a cruzar seus braços. É languidamente feminina quando se estende em canais de água. É suavemente devota no convento onde viveu Santa Joana. E é saborosamente familiar quando oferece aos visitantes seus doces de ovos moles.
Nossa visita foi curta, mas suficiente para apreciar um pouco disto tudo, como numa espécie de degustação. E ainda tivemos tempo para ir à vizinha Costa Nova, um lugarejo à beira mar e à beira ria... Costa Nova de casas coloridas e listradas. Vibrantes como as cores dos próprios barcos que percorrem esta região.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Hospitalidade portuguesa, com certeza

Enfim, no continente. Cidade do Porto, linda com sua arquitetura típica, suas igrejas, suas pontes, a vista do rio Douro. E o mais interesante: não é uma cidade excessivamente grande. O Porto parece que soube se conservar num tamanho razoavelmente pequeno para ser um lugar agradável.
Porém, no caso, isto ainda não é tudo. Se as viagens são feitas de lugares, são mais ainda feitas de pessoas. Pois tivemos a felicidade de uma recepção primorosa no Porto. Marta e Pedro, eu já desconfiava que iria encontrar pessoas simpáticas, mas vocês conseguiram superar minhas expectativas! O coração ficou um tanto mais português (e portuense) com o carinho de vocês, as atenções redobradas, as conversas saborosas, o bacalhau indescritível...
Ah, e o azeite de oliva em tudo: será que alguém no Brasil consegue imaginar o que é uma garrafa de 5 L de azeite de oliva e a velocidade com que se consome uma garrafa destas, de tão generalizado que é seu uso?
Ah, os amigos que deixamos no norte de Portugal: o vinho do Porto que levamos terá o sabor destas lembranças!

sábado, 9 de maio de 2009

Fragmentos de conversas açorianas

- É bonito!
(Qualquer açoriano sobre qualquer vista de sua ilha.)

- Por que tantos muros de pedra?
- Temos muitas pedras, é preciso usá-las de alguma maneira, para dar espaço à terra onde plantar...

- Já foram ao Peter?
(No Faial, sobre o café que é parada obrigatória.)

- Maio ainda dá capote aos marinheiros.
(Numa região de ventos imprevisíveis, o aviso de que a primavera chegou mas ainda não se firmou.)

- Com licença, era o senhor que estava caminhando na rua ontem à noite, durante minha aula de música?
(Numa ilha em que todos se conhecem e as ruas ficam desertas quando cai a tarde.)

- Não há um açougue na ilha?
- Talho? Não temos. Cada um de nós cria suas próprias vacas. Aqui é um lugar diferente de qualquer outro. É preciso saber viver no Corvo.

- Hoje aqui, amanhã também...
(Suave resignação com o isolamento da ilha.)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Bom dia, Corvo!


Chegamos hoje à ilha do Corvo, a 'mais pequena' dos Açores. Para chegar aqui, tomamos um avião de apenas 18 lugares que chamam de Mosquito...
O lugar é uma minúscula vila inacreditavelmente parada no tempo. Ruelas que parecem medievais habitadas pelos corvinos juntamente com suas criações de porcos, galinhas, cães... Moinhos de vento que encantariam D. Quixote. E essas pessoas que parecem conhecer uns aos outros e nos cumprimentam sempre, na rua, com um bom-dia ou boa-tarde. O dono da pousada foi nos buscar no aeroporto - sem aviso prévio, eu sequer informara que chegaria naquele avião. Acomodou-nos um tanto improvisados em sua velha caminhonete Ford e nos trouxe até aqui: o Comodoro, a única pousada da ilha, surpreendentemente moderna e confortável.
Vínhamos cogitando que os Açores são uma espécie de país em miniatura. Pois o Corvo é uma miniatura dos Açores, uma miniatura primorosa.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Terra e água, as pedras e o mar

Os açorianos são, como não podia deixar de ser, um povo dividido entre a terra e o mar. E o que mais chama a atenção é a maneira como as pessoas se relacionam com o seu meio em cada uma das ilhas.
Na ilha Terceira, são voltados completamente para a terra. Criam gado e cultivam o solo. Terra de origem vulcânica, dividida em pequenos lotes or pitorescos muros de pedra. Quem quiser conhecer a Terceira, com sua curiosa alma vulcânica, tome o táxi do sr. Aurélio e ele contará todas as histórias que conhece.
Vá depois ao Faial, outra das ilhas. O contraste com as demais se dá na forma como os faialenses abrem os braços para o mar. Os barcos ancorados e o café do Peter recebem quem chega. E a arte tradicional da ilha é feita, vejam só, em dentes de cachalote!
A frase que repetem por aqui não é exagero: cada ilha é diferente, cada uma tem suas particularidades e encantos.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Vista noturna de Angra do Heroísmo

Alguém aí já visitou a cratera de um vulcão?

Eu já. E amanhã devo visitar mais uma... Desculpem a afirmação pedante, mas é uma forma que encontrei de contar o quanto a paisagem aqui é diferente. Os Açores são ilhas vulcânicas: cada ilha é o topo de um vulcão no meio do oceano, às vezes mais de um vulcão.
Isto faz com que as ilhas tenham uma geografia realmente linda e incomum! A cratera que visitamos ontem (Sete Cidades) é realmente grande: engloba uma vila encantadora, que parece perdida no tempo e no espaço; mais ainda, contém lagoas de cores indescritíveis. Imaginem, por exemplo, uma lagoa em forma de oito onde metade é verde e metade é azul... Cores que as fotos, por melhores que sejam, terão dificuldade para mostrar...
Enfim: eses 'loucos' açorianos vivem num lugar... único!

domingo, 3 de maio de 2009

"Estes simpáticos malucos"

A frase não é minha - nós a encontramos escrita por aqui. Ah, estes simpáticos malucos! Frase que pretende descrever os açorianos e parece que consegue bastante bem.
Malucos? No melhor dos sentidos. Se Asterix e Obelix cá viessem, também diriam, com a melhor das intenções: estes açorianos são doidos! Bem, eu particularmente adoro uma pitada de sandice assim: gente que vive em ilhas isoladas do resto do mundo, que fala uma língua tão parecida e tão diferente da nossa, que constrói suas casas com pedras vulcânicas, cozinha usando o calor da terra, enfrenta tremores de terra, enfrenta o mar, convive com baleias, aves, vacas... E enchendo a boca para falar de sua terra. Cativante.
Ontem, enquanto passávamos os olhos por uma lojinha, começamos a conversar com a moça que lá trabalhava. Mais que uma aula do sotaque açoriano (que já está parecendo mais compreensível), ganhamos várias dicas sobre as ilhas e uma conversa bastante simpática. Ah, estes simpáticos açorianos!
Susete - a moça da loja - falou dos moinhos de vento, contou histórias, lembrou Ne(p)tuno... E falamos de viagens e lugares, ela contou de sua Ribeira Grande, nós de nosso Brasil... Alô, Minas Gerais, Susete tem parentes aí! Laços que para alguns parecem pouco, mas que vão construindo um belo mosaico. Não esqueceremos tão cedo da fotografia de uma onda quebrando na costa e formando a imagem perfeita do perfil de Netuno, nem esqueceremos que a cavalgada da Ribeira Grande acontece no dia de São Pedro. Algumas das histórias de ontem. Mas não, Susete, eu não sabia nada disso antes, realmente foi apenas um exercício de prestar atenção às imagens, às datas e às palavras. Se o restante das ilhas oferecer uma recepção assim tão simpática, estaremos bem servidos.
E se puderes visitar teus parentes em Minas, não duvido de que será uma viagem inesquecível como esta que estamos fazendo!

sábado, 2 de maio de 2009

O idioma dos Açores

Já atravessamos uma vez e meia o oceano. Assim: do Brasil até o Porto, e em seguida do Porto até São Miguel, a maior das ilhas açorianas.
Aqui, o dia foi de caminhar pela cidade, experimentar o ar ilhéu, acostumar-se a ele. A cidade é muito bonita. Acabamos deixando para amanhã a exploração dos arredores de Ponta Delgada (a principal cidade), que deverá ser de muito mais contato com a natureza.
Agora, chama a atenção o modo de falar, o sotaque açoriano! Quando falam diretamente conosco, em geral, eu entendo (embora tenha tido uma ou outra dificuldade e minha mãe tenha pedido várias vezes para a pessoa repetir o que dizia!). Mas, quando "pescamos" alguma conversa na rua, entre pessoas da terra, é algo simplesmente incompreensível! Como se via bastante aqui, de vez em quando parávamos, curiosos, tentando identificar: que língua será esta que estão falando? Não raro acabávamos nos dando conta de que era apenas português... o português dos Açores!