terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A vida em torno

Zagreb, na Croácia. Eis uma cidade sobre a qual tenho achado difícil escrever.
Provavelmente porque não é um lugar de rótulos minimalistas. Não vejo como enquadrar Zagreb num único adjetivo.
Afinal, bem ou mal, trata-se da capital de um país, e as capitais costumam ser uma mescla de gentes, sotaques, culturas. Diferentes formas de viver gravitam em torno das capitais. Zagreb não foge à regra.
Tenho conversado com gente do interior que veio tentar a vida aqui. E com gente que, mesmo nascida e criada em Zagreb, quer tentar a vida no exterior. E também com gente de Zagreb que não tem a menor vontade de ir embora.
Zagreb não tem as cores e os reflexos de Ljubljana, não tem as praias do litoral croata, não tem o exotismo de Istambul. Mas tem um charme que está nas pequenas coisas. Não é uma cidade para uma grande-angular, é cidade para ser vista de lupa.
É uma cidade grande para os padrões do país, mas é menor que a maioria das capitais dos estados brasileiros. Tamanho bom para explorar em detalhes.
E não tem muitos turistas. Ao menos não nesta época do ano. Aqui no albergue, há apenas duas pessoas hospedadas - eu e um rapaz que não cheguei a descobrir de onde é. Mais cedo, entrei numa loja bem no centro da cidade e acabei conversando um bom tempo com a moça que trabalhava lá. Falamos sobre a vida na Croácia e no Brasil, sobre o clima (o que é diferente de falar sobre o tempo), economia, trabalho, estudos, literatura. Ela me mostrou o livro de um autor croata que recém tinha comprado num sebo e que estava lendo. Lia na loja: segundo me contou, eu era a segunda pessoa a entrar ali durante toda a manhã...
Pelo menos uma coisa me pareceu familiar em Zagreb. A cidade tem uma grande praça, a Jelačićev Trg, típico cartão-postal de cidade média, com monumento ao centro, que é o centro de confluência dos bondes que circulam aqui. A praça fica bem ao lado da Cidade Alta (Gornji Grad). São detalhes que me lembraram Lisboa e suas praças - o Rossio, a Praça da Figueira... Mas uma coisa interessante sobre a praça de Zagreb é que o monumento (homenagem ao tal Jelačić, antigo governador croata) serve de ponto de encontro para a população. Literalmente: basta uma caminhar pela praça para perceber umas quantas pessoas em volta da estátua. Sempre tem alguém esperando alguém, e sempre tem alguém que chega (curiosidade: aqui os homens se cumprimentam com beijo no rosto, mas um homem e uma mulher se cumprimentam apertando-se as mãos). São os encontros de Zagreb. Como nas cidades de interior, aquelas onde a vida gira em torno da praça.

2 comentários:

Renata Teixeira disse...

Janeiro é um mês especial em vários lugares do hemisfério norte. Uma cidade linda, fica ainda mais linda sem turistas. Não porque turistas são ruins, mas porque ver o povo da terra, o "cidadão de raiz" é o que nos encanta. Como sabe, eu morei alguns anos da minha vida num cidadezinha chamada Jabuticatubas. Lá, que nunca foi capital de nada, as pessoas se encontram no monumento do centro da praça. Nem sei se ainda existe o monumento, mas a praça sim. Praças de pequenas cidades não morrem. Edu eu imagino que deve ser muito bom passear por Zagreb, tomar um café e ficar olhando a vida. Aliás, te pago um café hoje, aceita?

Eduardo Trindade disse...

É tão bom quando os lugares conseguem marcar a gente de alguma maneira! E ainda temos tantos lugares a descobrir juntos... Zagreb não é uma cidade pequena, mas ao mesmo tempo não é tão grande assim, e caminhando por lá eu fiquei com essa impressão de um lugar onde, mesmo sendo capital de país, as pessoas ainda têm jeito de ser meio provinciano...
Quanto ao café, está aceito e reaceito!