sábado, 7 de janeiro de 2012

O chato profissional

Existe um termo na língua inglesa, "tout", cujo equivalente em português eu não conheço, mas acho que poderia muito bem ser "chato profissional".
Quem viaja para certos países da Ásia já se deparou com ele. Pelo que ouvi contar, também é frequentíssimo no norte da África. E, claro, está presente em outros lugares, incluindo o Brasil.
"Tout", o chato profissional, é aquela pessoa que não nos deixa em paz, que insiste em tentar vender alguma coisa ou oferecer um serviço, recomendar uma loja ou um restaurante. Que se acha o máximo, sabe mais que nós sobre nossos próprios desejos. E, claro, é nosso amigo do peito.
No Rio de Janeiro, o chato profissional aparece quando desembarcamos no aeroporto ou na rodoviária e tenta nos empurrar uma corrida de táxi. Também é mais frequente que os urubus ao redor do Corcovado - aos pés do Corcovado, digo, disputando os turistas que lá aparecem. Vergonha para nossa cidade mais turística.
O chato profissional está presente na China e, se deixarem, é capaz de seguir um turista por vários quilômetros da Grande Muralha.
O chato profissional, na Índia, é o sujeito mais persistente que conheci na vida, capaz de oferecer de tudo - de tapetes a chaveiros, de cigarros a mulheres - mas não de atender ao meu único desejo, que era ser deixado em paz.
O chato profissional, na Turquia, é bem mais comedido. Está ausente de alguns bairros, onde consegui a graça de me camuflar no meio da populacão local, mas não deixa de estar presente nas zonas mais turísticas. Infelizmente para ele, já estou razoavelmente treinado na arte de ignorá-lo - a única arma razoavelmente eficiente que conheço nesses casos. Ao menos aqui, costuma dar certo, não cheguei a me incomodar. Embora às vezes seja curioso: hoje, enquanto um chato profissional me abordava ("hello, my friend, what can I do for you, what are you looking for?"), virei o rosto para o outro lado e segui atravessando a rua. Achei que ele tinha desistido, mas não: gritou para um colega do outro lado da rua, que veio, "how can I help you?", com a cara-de-pau característica. O chato profissional tem muitos rostos, todos iguais.

Um comentário:

Renata Teixeira disse...

Eu não tenho a mesma destreza em me livrar do chato profissional que você. Eu fico extremamente irritada e isso me custa vários minutos de alegria. Tenho vontade de usar uma pistola desintegradora e o desespero é tamanho que eu aceitaria usa-la em mim, caso o primeiro tiro no chato profissional não surtisse efeito. Morro de inveja da forma como você consegue se blindar dessas pessoas... Minha pulsação deve aumentar de tanta agonia e indignação por alguém que me rouba a paz do jeito que esses profissionais fazem.