segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Mundos de cá e mundos de lá

Em Ljubljana, aos domingos, acontece uma feira de rua de antiguidades e quinquilharias, o brique deles. É muito menor que o Brique da Redenção de Porto Alegre, mas não deixa de ser interessante. Principalmente por um motivo curioso: essas feiras são pontos de encontro de pessoas e objetos nostálgicos, e nostalgia, aqui nos Bálcãs, significa quase sempre nostalgia do comunismo. Em outras palavras, encontra-se todo tipo de lembranças, livros, insígnias e documentos da antiga Iugoslávia e mais alguma coisa da União Soviética (embora a Iugoslávia, apesar de ter um governo comunista, desde o final da Segunda Guerra não fosse alinhada com o bloco soviético).
Os feirantes, aqui, são mais educados e muito mais comedidos que os da Turquia. Mesmo assim, alguns puxam assunto, começam a falar quando me supõem interessado em determinado artigo ou apontam outros parecidos...
E aqui um parêntese. Talvez vocês saibam que tenho estudado a língua croata. O esloveno está para o croata assim como o espanhol para o português - são parecidos, mas definitivamente são línguas diferentes. Na Eslovênia, decidi me esforçar para me fazer entender na língua deles ou, ao menos, em algo parecido com um "croatoveno" - um "portunhol" de croata e esloveno. Apostei no fato de que as línguas são razoavelmente parecidas e também no fato de que, tendo vivido num país de maioria servo-croata, pelo menos os mais velhos deveriam saber algo de croata. E, bem ou mal, a verdade é que me fiz entender.
Assim, quando um daqueles senhores da feira me abordou (eu estava entretido com alguns livros eslovenos da época comunista e fazendo cara de inteligente), respondi que estava só olhando. Ele falou mais alguma coisa e continuei respondendo no meu "croatoveno". Então ele perguntou se eu era croata ou russo. Bingo! Nunca na vida tinha pensado que me tomariam por croata ou por russo, ainda mais tendo por base a língua que falo (ou tento falar). Mas, enfim, disse a ele que eu era brasileiro, com um pouco de medo de que o princípio de conversa descambasse para futebol e samba. O senhor pensou um pouco e me falou: "hum, Brasil! Mas eu não falo espanhol!" Sorri amarelo e ele se corrigiu: "quero dizer, português! Vocês falam português, não?" Depois: "sabe como é, a África do Sul fica muito longe daqui... Ah, eu disse África do Sul? Eu quis dizer América do Sul!"
Eu apenas sorri. Resolvi dar um crédito a ele, afinal quantos de nós sabemos apontar a Eslovênia num mapa ou dizer qual língua se fala lá?
E o senhor continuou falando e me mostrando um cartaz do marechal Tito, dizendo de vez em quando entre dentes: "puxa, Brasil!"

5 comentários:

Ariane Rodrigues disse...

Que bom ler um texto que estende o sorriso por um bom tempo!

Arthur R. P. Santos disse...

Que texto bom, Edu! Ser tomado por um eslavo deve ter lhe deixado muito feliz naquele momento. E esse senhor? Parece até que confundiu América com África de propósito rs.

Abraços!

Renata Teixeira disse...

Fiquei na dúvida, comprou o livro ou não? Sei bem como você gosta de "quincas" (quinquilharias) e como deve ter se sentido tentado a voltar para casa com mais um "samovar" ou algo de tamanha utilidade e facilidade de transporte.... :-D

Eduardo Trindade disse...

Não comprei o livro, se me lembro bem eu não estava de olho em um livro específico, e sim no ambiente como um todo... E a verdade é que gosto de comprar, mas gosto mais ainda de olhar essas feiras. Mas a única coisa que trouxe de lá cabia até no bolso: uma nota cheia de zeros, de 50.000.000, do tempo da guerra, que me torna um legítimo milionário!

Renata Teixeira disse...

Se eu tenho um noivo milionário, porque é que mesmo que continuo trabalhando ao invés de assumir meu novo lugar ao sol: dondoca!!! Na dúvida, ou tratar logo de arrumar mais um filho contigo! Puffin, ai vem mais um irmão!!