quarta-feira, 16 de maio de 2012

Ler também é uma forma de partir. Ou de chegar.


Viajo nos livros, pelos livros e por livros. Em mais de um sentido, livros me aproximam de pessoas e de lugares.
Viagens são um tema recorrente aos livros. Livros são um tema recorrente aos viajantes.
Minhas leituras influenciaram a escolha de não poucos destinos de viagem. Saramago, de certa forma, aproximou-me de Portugal – seus livros acalentaram meu desejo de conhecer mais a fundo nossos irmãos d’além-mar. Na Espanha, senti-me um pouco Quixote e meu coração pulou quando vi moinhos. Martín Fierro me ensinou o que já era óbvio, que temos mais em comum com os argentinos do que gostam de admitir os contadores de piadas. Visitei cidades, estradas e casas instigado por autores que as descreviam.
E, em visita, colecionei novos livros.
Perdi-me em livrarias chinesas, prometendo mentalmente aprender um dia a desvendar os ideogramas das páginas que levaria na bagagem – promessa temporariamente adormecida, mas absolutamente não abandonada.
Tive um pouco mais de sucesso, ou de persistência, na Croácia e na Bósnia: aos poucos, o idioma daquela parte dos Bálcãs tem deixado de ser incompreensível e já venci mais de um livro trazido de lá.
Não tive tempo nem coragem de ousar a língua turca e, pior, deixei Istambul ao mesmo tempo cativado por Orhan Pamuk e com o coração partido por não incluir na bagagem livro algum dele. Mas sei que ainda haverá tempo para corrigir esta falha.
Librería Ruben, Montevidéu
No Brasil, tão familiar e tão imensamente rico, mergulhei com Monteiro Lobato, Erico Verissimo, Guimarães Rosa, Josué Montello, Ariano Suassuna e tantos outros. Com os cordéis do Ceará. Com os poetas de baixo do MASP, em São Paulo, e dos blogues de todos os cantos. Não canso de descobrir este país que é sempre um pouco maior que o abraço, apenas para nos fazer abrir mais o peito.
De peito aberto, visitei livrarias, sebos, feiras de rua. Em Madri, espantei-me com a velhinha que tomava conta de uma banca de livros. A pobre senhora era tudo, menos vendedora. Tinha um ciso a menos ou um quê de ciúme a mais, ciúme dos seus livros: ela literalmente enxotava aos berros quem quer que se aproximasse da sua banca.
Em Paris, ganhei de presente uma edição linda de Vinte Mil Léguas Submarinas no seu idioma original. Júlio Verne no estado mais puro. O escritor que primeiro me incentivou a ler e que antes de qualquer outro me apresentou ao mundo das “viagens extraordinárias”. Tudo porque, quando criança, descobri meus primeiros Júlio Verne nas prateleiras de certo sebo uruguaio.
Em Montevidéu, revi um antigo endereço mais de vinte anos depois, com as mesma prateleiras de livros empoeirados até o teto. Através dos livros, quando viajo, sempre sou surpreendido por um pouco de mim em alguma parte.

3 comentários:

Arthur R. P. Santos disse...

Literalmente a velhinha madrilenha tomava conta dos livros, como um bom cão de guarda rs. Muito bom este post!

Vanessa Campos disse...

Que delícia de post, moço.

Renata Teixeira disse...

Em Barcelona eu acho, numa feirinha de livros, você me contou essa história da velhinha de Madri! Parece comigo olhando minhas prateleirinhas de livros... :-D