Não fazemos questão de hospedagens luxuosas quando viajamos. Em geral, tratamos de economizar, procurando uma acomodação tão barata quando possível, desde que bem localizada e com um mínimo de limpeza e de conforto.
Sim, às vezes erramos feio na escolha, como no caso de uma pousada em Franca, interior de São Paulo, que tinha o banheiro no quarto. Não, não estou falando de um quarto com banheiro privativo; era exatamente o oposto de privacidade, pois o chuveiro, o vaso sanitário e a pia ficavam ao lado da cama, separados desta apenas por uma espécie de meia parede que não chegava ao teto e que também não tinha o comprimento minimamente necessário para dividir um ambiente do outro...
Noutras ocasiões, acabamos nos deparando com situações simplesmente pitorescas: um hotel fantasma; uma pousada labiríntica; uma hospedaria que só fornece toalhas a quem curtir a sua página do Facebook (e lá vamos nós catar o celular, acessar a rede wi-fi, curtir a página na frente da recepcionista, para em seguida descurtir...).
Em compensação, há casos em que é possível dormir em lugares incríveis sem que o preço seja necessariamente estratosférico. Uma pousada na Capadócia em que os quartos são cavernas na pedra é só um dos exemplos possíveis.
Mais recentemente, temos explorado uma outra forma de hospedagem, bastante comum em certas partes da Europa: alugar um apartamento diretamente com o proprietário. Temos conseguido apartamentos bem localizados, maiores e mais bem equipados que os quartos oferecidos pela maioria dos hotéis convencionais, e por preços competitivos. Em geral, há duas desvantagens: enquanto muitos hotéis têm recepção 24 h, nesses apartamentos é preciso informar com antecedência a hora aproximada da chegada (o que, dependendo do planejamento, pode ser um problema); e não é oferecido café da manhã. Em compensação, o apartamento, além de ser mais espaçoso, tem outra vantagem: uma cozinha inteira só nossa! Ir ao supermercado e procurar por produtos típicos do lugar, ou por produtos que não conseguimos com tanta facilidade no Brasil, acaba sendo uma grande diversão. E uma diversão que nos garante comida boa, farta e barata no café da manhã e no jantar.
Começamos pouco a pouco... No começo, nem sequer usávamos a cozinha. Depois, aproveitávamos o espaço para preparar alguns sanduíches. Nas últimas vezes, refeições completas (na medida do possível) já estavam saindo do fogo e enchendo o ambiente com o cheiro de comida.
E já não surpreenderá os leitores desse espaço que algumas das nossas mais agradáveis experiências de hospedagem tenham sido nas Ilhas Faroe. À parte a simpatia de todos que encontrávamos, à parte a nossa janela com vista para o fiorde em Tvøroyri, tivemos uma acomodação ímpar em Tórshavn: não um simples apartamento alugado, mas uma legítima casa em estilo nórdico, de paredes de madeira e grama no telhado. Simples por dentro, mas autêntica, tão autêntica que o fogão funcionava a lenha - e cozinhar num fogão a lenha pode ser mais difícil e demorado que num fogão a gás, mas nada combinaria tanto com o ritmo daquelas ilhas. Um rádio para encher a casa com a suave música faroesa. Pássaros e um cachorro que visitava a nossa varanda. O que mais poderíamos querer?