Para quem não é de folia, o carnaval é uma oportunidade (quase uma obrigação) de viajar para longe. Assim, temos tratado de aproveitar os últimos feriados de carnaval em outras plagas.
À parte a questão da viagem e dos passeios em si, pensar que é carnaval quando se está no exterior traz duas possibilidades. Uma, a de que os dias passam como quaisquer outros e o carnaval é uma festa desconhecida - como vivemos, por exemplo, na muçulmana Bósnia. Outra possibilidade é a de que existe, sim, carnaval. O que é interessante porque, em qualquer outro país do mundo, o carnaval é provavelmente diferente do que conhecemos no Brasil.
De qualquer forma, o fato é que viajamos sem nos preocuparmos com o carnaval. Fomos para a Alemanha.
Frankfurt, ou Frankfurt am Main, que os lusitanos chamam de Francoforte do Meno, não é uma cidade particularmente turística, mas ainda assim vale a visita. Passeando por lá, descobrimos quase sem querer, entre outras coisas, que o carnaval é um desfile pelas ruas. Carros alegóricos, gente fantasiada e alguns instrumentos musicais - tudo muito bem feito, mas sem o exagero (ou grandiloquência) do Rio de Janeiro. Os carros alegóricos lembram certos trios elétricos, mas às vezes são pouco mais que kombis - embora, na Alemanha, é comum ver uma Mercedes onde esperaríamos uma Kombi.
As pessoas, especialmente as crianças, ocupam as calçadas das ruas por onde vai passar o desfile. Curiosos que somos, imitamos o povo e nos colocamos também à espera dos foliões. Que passam coloridos, lançando ao ar o brado oficial do carnaval alemão - Helau! - e recebendo precisos e incompreensíveis versos alemães como resposta. De quando em quando, jogam doces. Sim! Para alegria das crianças e dos gulosos, na Alemanha os foliões desfilam jogando guloseimas para o público. À nossa volta, os mais precavidos têm sacolas para a coleta. Aos poucos, vamos aprendendo: o grito - Helau! - é prenúncio de uma chuva de balas, chicletes, pirulitos, bolachas, marias-moles... Mãos ansiosas pulam atrás de um quinhão do doce tesouro. O carnaval de Frankfurt nos conquistou.
Seguimos viagem. Lá pelas tantas, fazemos uma breve parada na pequena e típica cidade de Bad Mergentheim. O acaso (ou nem tanto, afinal é carnaval) faz com que encontremos a população em frenesi, é evidente que o desfile acontecerá dali a pouco. Não nos fazemos de rogados: seguimos para a praça, entre as pessoas, e buscamos uma colocação estratégica para ver os blocos, tirar algumas fotos e coletar os doces que pudermos. Quando o desfile começa, tudo é festa. Helau! Helau! Até que somos atingidos por projéteis - balas alemãs - balas de açúcar! Os doces não só são abundantes como são duros. E parecem ser jogados com toda a força pelos sorridentes alemães. Helau! E levamos as mãos ao rosto para nos protegermos, enquanto as balas fazem um ou outro galo em nossas cabeças. Helau! E procuramos juntar rapidamente o que sobrou de balas espalhadas pelo chão para então recuar estrategicamente, buscando um lugar seguro.