
"O mundo sobre rodas", de Ali Mitgutsch, é um livro que ganhei anos atrás, quando criança, e que acabei conservando até hoje. De certa forma, esse livro pode ter influenciado algumas das minhas escolhas profissionais e de lazer. Trata-se de um volume completamente ilustrado que conta a história do
transporte sobre rodas através de inúmeros desenhos bem-humorados. Quando mais novo, folheei várias e várias vezes esse livro, percorrendo os detalhes do texto e das ilustrações, e ainda depois de adulto não deixei de abri-lo uma vez ou outra. Do transporte de blocos de pedra paras as Pirâmides do Egito até
carros de corrida, passando por bigas romanas, diligências do Velho Oeste, bicicletas, patins, trens, ônibus e o Ford Modelo T, o livro tinha um pouco de tudo.
Acho que "O mundo sobre rodas" está esgotado, ao menos em português. Numa pesquisa rápida,
só o encontrei em alguns sebos. Uma pena, pois me alegraria saber que esse livro continua sendo aproveitado hoje em dia (se bem que ele precisaria de uma atualização, pois algumas décadas se passaram desde a edição que temos aqui em casa...).
Pois enfim. Estava eu de férias nesse nosso mundo sobre rodas quando entrei em um
museu de Oslo dedicado aos vikings. As estrelas do museu são três navios
viking que sobreviveram aos séculos - dois deles em impressionante estado de conservação/restauração, e o terceiro incompleto, mas ainda assim digno de nota. Ao que parece, trata-se dos três mais bem preservados navios
viking do mundo, e um barco desses de madeira ter sobrevivido mais de um milênio não é pouca coisa. O museu possui ainda uma série de outros artefatos, alguns dos quais encontrados junto aos navios (arqueólogos devem agradecer o fato de que escandinavos ricos faziam seus funerais em barcos como esses e amaldiçoar o fato de que, eventualmente, em vez de enterrar o barco com tudo dentro, resolviam queimá-lo).
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Carruagem no Vikingskipshuset;
as condições não eras as melhores para uma boa foto... |
Uma das peças do museu é uma carruagem de madeira cuidadosamente exposta. Acontece que bastou olhar para carruagem para uma luz se acender em alguma parte do meu cérebro: aquilo me era familiar.
Ao voltar para o Brasil, fui atrás do velho "O mundo sobre rodas" e confirmei minha suspeita. A carruagem
viking estava lá, exatamente ela, num desenho do autor!
Não pude não achar curiosa a forma como aquela relíquia saiu do livro para cruzar meu caminho tantos anos depois, assim por acaso, como também foi curioso descobrir que ainda me lembro tão bem das páginas da velha relíquia (pudera, a edição é de 1977, quando eu sequer era nascido) de Ali Mitgutsch. Mais uma vez, voltei a ela. O que seria de nós se não fossem os livros?
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A mesma carruagem desenhada pelo autor do livro, que certamente gostava de museus
e deve ter andado pelo Vikingskipshuset décadas antes de mim. |