Å é o nome de uma pequena vila nas ilhas Lofoten, a ponta mais ocidental do arquipélago se desconsiderarmos as ilhas Værøy e Røst, que ficam bem mais afastadas. Å é o último lugar de Lofoten aonde se consegue chegar de carro sem tomar um barco.
No nosso caso, pegamos um ônibus em Leknes (aproximadamente no centro geográfico de Lofoten). Perfeitamente organizado e cronometrado - como tudo, aliás, na Noruega. Fomos à parada e, pontualmente às 13h07, como prometido na tabela de horários disponível na Internet, chegou o ônibus e embarcamos. A viagem pelos cerca de 70 km que separam uma cidade da outra deveria durar 1h43. Estávamos já bastante perto do destino e parecia que chegaríamos adiantados. Foi então que, numa das paradas, algumas pessoas desceram, outras subiram, e o ônibus continuou estacionado. Aguardamos um pouco, e nada. Como tinha a impressão de que não estávamos tão longe assim do destino, cheguei a cogitar seguirmos a pé. Em vez disso, fui até o motorista perguntar educadamente o motivo de estarmos ali parados. "Estamos esperando as crianças saírem da escola", eis a resposta simples e lógica. Dali a pouco, uns tantos meninos foram chegando e embarcando. E o ônibus partiu. Chegamos a nosso destino no horário prometido, nem um minuto a mais, nem um minuto a menos.
Estávamos enfim em Å, um pitoresco conjunto de casas de madeira, algumas sobre palafitas, entremeado de ruelas e de braços de mar onde repousavam barcos de pesca. Achamos nossa pousada, certamente a maior da vila: além do conjunto de rorbuer (típicas cabanas para hóspedes norueguesas), possuía um amplo restaurante e um cais considerável. Å é, evidentemente, um lugar de pescadores. Demoramos uns instantes a achar nosso quarto; acontece que ficamos hospedados no andar acima do galpão em que os peixes são limpos e armazenados. Logo me acostumei ao cheiro de peixe, e só lembrava realmente dele quando precisava de uma das toalhas, que pareciam concentrar em si o odor de pescado.
Num instante percorremos, a pé, o centro de Å. A vila é pequena como o seu nome, e tão bonita quanto pequena. Gaivotas nos acompanhavam: elas estão pela cidade toda e fazem seus ninhos do lado e acima de nosso quarto!
Procuramos em vão por um mercado onde comprar ingredientes para fazer uma refeição. Então achamos uma padaria e entramos. Trata-se de um lugar rústico, instalado numa antiga casa, onde somos recebidos por uma moça que é, ao mesmo tempo, padeira e atendente. Vê-se o forno e os utensílios, e a impressão é de que são os mesmos há um século. Veem-se também alguns pães expostos; escolhemos um, pagamos e saímos. O pão é saboroso, rústico como se esperaria daquela padaria, embora com bastante canela. Não gostamos tanto assim de canela... Em compensação, na saída, encontramos uma butikken e entramos: é a loja que vende de tudo, desde livros e lembranças para turistas até arroz, peixe e alguns legumes. As estantes são decoradas com velhas latas de óleo de fígado de bacalhau. Sem pressa, damos uma volta pelo pequeno mercado e afinal fazemos nosso rancho. À noite, jantaremos produtos locais. Depois, iremos dormir ouvindo as gaivotas, com o sol da meia-noite entrando pela janela e treinando falar, entre sorrisos, o nome mais curioso que poderíamos imaginar: Å, cuja sonoridade lembra um "eau" francês mal-pronunciado - [o:].