Alguns países desafiam o nosso senso comum quando procuramos por um produto ou serviço específico. Definitivamente, as aparências enganam.
Nossa intenção era trocar o dinheiro por coroas em um banco assim que chegássemos à Dinamarca (afinal, graças à criatividade duvidosa de nossos legisladores, somos obrigados a carregar dinheiro vivo quando viajamos, enquanto o resto do mundo usa cartão). Mas perdemos o horário bancário em Billund, então deixamos para fazer o câmbio em Tórshavn.
Ao desembarcar em Tórshavn, numa quinta-feira, chegamos a procurar um banco, e ainda atribuímos o fato de estarem todos fechados a uma hipotética sesta, para só depois descobrir que era feriado nacional (Dia da Ascensão).
Esperamos então pela sexta-feira. Nesse dia, o plano era alugar um carro e sair dirigindo pelo arquipélago. Fácil, então: na primeira cidade que passássemos, após as 10 h, procuraríamos um banco com o auxílio do GPS (na verdade, de um aplicativo para celular, pois o programa original do GPS simplesmente ignora a existência das Ilhas Faroe!).
Dito e feito: entramos em Kollafjørđur, onde o aplicativo apontava a existência de dois bancos, e fomos até o primeiro deles. Como é comum nas Ilhas Faroe, o prédio era absolutamente igual a todos os outros, sem nenhum letreiro aparente, a não ser pelo horário de funcionamento afixado na porta - fechada. Uma mulher fumava do lado de fora. Deduzimos que a única funcionária tinha saído para fumar, então perguntamos a ela se estava aberto, ao que ela respondeu que não sabia - obviamente não se tratava de uma funcionária. Mas, prestativa, apontou para um cartaz com um número de telefone e se ofereceu para ligar e contatar a pessoa responsável. Agradecemos a boa vontade e nos prontificamos a esperar.
Enquanto a mulher ligava e começava a falar em feroês com alguém do outro lado da linha, espiei pela janela da agência. Chamei a Renata:
- Isso não é um banco...
E ela:
- Claro que é, o cartaz até diz o horário de funcionamento!
Eu repliquei:
- Olha lá dentro!
E, pela janela, ela viu o mesmo que eu: uma porção de cremes de cabelo. E uma placa que, mesmo em feroês - "Salong Hár" - não deixava dúvidas de que estávamos em frente a um salão de beleza.
E, dando a volta na casa, descobrimos o motivo do nosso erro: um simples caixa eletrônico, inútil para nós, até o qual o GPS havia nos guiado.
Entreolhamo-nos, sem graça, como quem pergunta: quem vai explicar para a mulher tão prestativa, que já está no meio da ligação?
Acontece que a própria mulher se virou para nós dizendo que a dona do salão estava em viagem na Dinamarca. Continuou explicando quando a tal dona voltava, mas mal sabia ela que, a essa altura, aliviados, nem prestávamos mais atenção!
Voltamos ao carro e seguimos viagem até Klaksvík, cidade maior onde tínhamos mais chances de encontrar uma agência de verdade. Mesmo assim, só pudemos ter certeza de que havíamos encontrado ao sair da agência já com as notas de coroas faroesas na mão, pois o banco não se parece nem um pouco com o que estamos acostumados. Nada de seguranças, detetores de metal ou portas giratórias. É uma simples construção de madeira. Entra-se e há uma mesa com café e bolachas para os clientes. Mesas e arquivos que lembram um escritório. Ressabiado, procurei indícios que pudessem me garantir que eu estava em uma agência bancária. Mas havia dois caixas atendendo, e uma pessoa esperando no que não chegava a ser uma fila. Juntei-me a ela e logo fui atendido, com a simpatia típica daqui e que, junto com a tranquilidade de se poder fazer um banco simples como aquele, não tem preço.