Há viagens que nos proporcionam emoções deliciosas.
Grandes cidades têm aderido à popularização das viagens turísticas e oferecem atrações dificilmente imbatíveis: city tours, monumentos, museus, sem contar os hotéis de luxo e os grandes navios de cruzeiro. O problema disto tudo é que, se simplesmente nos deixarmos levar, a viagem terá aquele gosto de comida industrializada, congelada e embalada para ser aquecida no microondas.
Para nossa sorte, gravitando em torno destes destinos mais badalados estão as pequenas cidades. Aquelas que nos oferecem o sabor do doce que nossas mães e avós costumavam fazer em casa. Quem prova, leva consigo uma lembrança toda especial deste sabor.
Às vezes, eu me surpreendo com o estilo, ao mesmo tempo familiar e completamente diferente, que têm certas cidades do interior... É um resgate, amplificado e regado com um toque pitoresco, de coisas que marcam uma vida.
As estradas gaúchas estão pontuadas de barracas que vendem os mais diversos itens. Algumas não passam de uma tenda com o produto de determinada região – seja ele pinhão, melancia, morango, laranja, vinho. Outras são grandes vendas de beira de estrada que contam com tudo isso e mais artesanatos, erva-mate e os tradicionais queijos, salames, copas, caldo-de-cana, cucas, chimias, mandolates... Um mundo. Para muitos, cada um destes produtos tem uma história própria e reencontrá-los é voltar a uma época marcante da infância. O caldo-de-cana, assim como os puxa-puxas, lembram-me as frequentes idas ao litoral da minha família, quando eu era criança e a escala numa destas barracas era quase obrigatória. As chimias, compradas ou feitas em casa, estavam sempre na nossa mesa. Os grôstoli ou, em bom gauchês, cuecas-viradas, eram a saborosa marca registrada de nossa divertida e inesquecível tia. Queijos e salames faziam a festa dos adultos: eu confesso que não era particular fã deles, mas passei a ser depois que cresci um pouco mais. E assim fui construindo todo um mosaico...
Que não para, porém, na culinária. Não há como não ser marcado pela atitude das pessoas do interior, tão diferentes nas coisas simples. Não necessariamente melhor ou pior, apenas diferente. Numa destas cidadezinhas, no Natal, gente que eu não conhecia e que era amiga da minha irmã convidou toda a nossa família para um churrasco, de surpresa. E me presentearam com litros do vinho produzido por eles mesmos. Noutra ocasião, também no interior do estado, conheci pessoas interessantíssimas que praticamente só falavam um carregado dialeto italiano – não por afetação, apenas por costume.
Mais recentemente, fui visitar minha irmã em Nova Prata, cidade que não é das menores. Encontramos a praça central com um palco armado para a apresentação de Luiz Marenco, músico nativista. Fomos comer um crepe suíço (certo, não é algo tão natural quanto os citados queijos e chimias, mas para mim é tão nostálgico quanto eles). Puxando assunto com a moça que nos atendeu, disse que minha irmã morava na cidade e que eu tinha vindo do Rio. Ao que a moça replicou:
— Ah, vieste para o show do Luiz Marenco, então?
Minha reação foi sorrir intimamente ao constatar o quanto as referências dela eram diferentes das minhas: a guria achava a coisa mais natural do mundo que eu tivesse saído do Rio de Janeiro para o interior do Rio Grande do Sul por causa de uma apresentação nativista específica! Depois, fiquei pensando que não se trata de este ou aquele músico, esta eu aquela comida, mas de um encontro comigo mesmo, e particularmente com a criança que eu fui e sou. Um encontro que não costuma acontecer nos McDonald’s — lugares que, coincidência ou não, o menino Eduardo frequentava muito menos que as velhas barracas de estrada.
Grandes cidades têm aderido à popularização das viagens turísticas e oferecem atrações dificilmente imbatíveis: city tours, monumentos, museus, sem contar os hotéis de luxo e os grandes navios de cruzeiro. O problema disto tudo é que, se simplesmente nos deixarmos levar, a viagem terá aquele gosto de comida industrializada, congelada e embalada para ser aquecida no microondas.
Para nossa sorte, gravitando em torno destes destinos mais badalados estão as pequenas cidades. Aquelas que nos oferecem o sabor do doce que nossas mães e avós costumavam fazer em casa. Quem prova, leva consigo uma lembrança toda especial deste sabor.
Às vezes, eu me surpreendo com o estilo, ao mesmo tempo familiar e completamente diferente, que têm certas cidades do interior... É um resgate, amplificado e regado com um toque pitoresco, de coisas que marcam uma vida.
As estradas gaúchas estão pontuadas de barracas que vendem os mais diversos itens. Algumas não passam de uma tenda com o produto de determinada região – seja ele pinhão, melancia, morango, laranja, vinho. Outras são grandes vendas de beira de estrada que contam com tudo isso e mais artesanatos, erva-mate e os tradicionais queijos, salames, copas, caldo-de-cana, cucas, chimias, mandolates... Um mundo. Para muitos, cada um destes produtos tem uma história própria e reencontrá-los é voltar a uma época marcante da infância. O caldo-de-cana, assim como os puxa-puxas, lembram-me as frequentes idas ao litoral da minha família, quando eu era criança e a escala numa destas barracas era quase obrigatória. As chimias, compradas ou feitas em casa, estavam sempre na nossa mesa. Os grôstoli ou, em bom gauchês, cuecas-viradas, eram a saborosa marca registrada de nossa divertida e inesquecível tia. Queijos e salames faziam a festa dos adultos: eu confesso que não era particular fã deles, mas passei a ser depois que cresci um pouco mais. E assim fui construindo todo um mosaico...
Que não para, porém, na culinária. Não há como não ser marcado pela atitude das pessoas do interior, tão diferentes nas coisas simples. Não necessariamente melhor ou pior, apenas diferente. Numa destas cidadezinhas, no Natal, gente que eu não conhecia e que era amiga da minha irmã convidou toda a nossa família para um churrasco, de surpresa. E me presentearam com litros do vinho produzido por eles mesmos. Noutra ocasião, também no interior do estado, conheci pessoas interessantíssimas que praticamente só falavam um carregado dialeto italiano – não por afetação, apenas por costume.
Mais recentemente, fui visitar minha irmã em Nova Prata, cidade que não é das menores. Encontramos a praça central com um palco armado para a apresentação de Luiz Marenco, músico nativista. Fomos comer um crepe suíço (certo, não é algo tão natural quanto os citados queijos e chimias, mas para mim é tão nostálgico quanto eles). Puxando assunto com a moça que nos atendeu, disse que minha irmã morava na cidade e que eu tinha vindo do Rio. Ao que a moça replicou:
— Ah, vieste para o show do Luiz Marenco, então?
Minha reação foi sorrir intimamente ao constatar o quanto as referências dela eram diferentes das minhas: a guria achava a coisa mais natural do mundo que eu tivesse saído do Rio de Janeiro para o interior do Rio Grande do Sul por causa de uma apresentação nativista específica! Depois, fiquei pensando que não se trata de este ou aquele músico, esta eu aquela comida, mas de um encontro comigo mesmo, e particularmente com a criança que eu fui e sou. Um encontro que não costuma acontecer nos McDonald’s — lugares que, coincidência ou não, o menino Eduardo frequentava muito menos que as velhas barracas de estrada.