Ele não é unanimidade, mas está em toda parte. Uns o desprezam, outros não vivem sem ele. Da praia de Copacabana às veneráveis cidades chinesas, de Paris aos Estados Unidos, de Londres a Nova Déli, lá está ele. Cintilante, o Grande M.
McDonald’s.
Não pretendo discorrer sobre o McDonald’s como símbolo de ideologias políticas e econômicas nem sobre o valor nutritivo de um Big Mac. O que interessa a um viajante inveterado, em última análise, é que, seja no centro comercial de uma cidade cosmopolita ou às portas de uma fortaleza medieval, corre-se sério risco de esbarrar com ele.
O Grande M, mais onipresente que o Grande Irmão previsto por Orwell.
Claro que sou fascinado pela oportunidade de desvendar um pouco que seja de culturas diferentes quando viajo. Claro que isso inclui provar a culinária local. Ainda quero escrever mais sobre as experiências sensoriais, entre curiosas e encantadoras, que uma simples refeição pode proporcionar.
Mas confesso que também existem alguns momentos em que precisamos de um certo descanso: seja do bolso, quando os restaurantes convencionais são muito caros, ou do paladar, quando a comida local é exótica ou apimentada demais. Ou simplesmente quando olhamos sem cessar à nossa volta e não encontramos um único lugar que pareça oferecer uma refeição razoável e confiável. É nestas horas que ele nunca decepciona: dobramos a esquina e lá está o Grande M. Vamos a ele com a vantagem de já saber o que pedir, o que esperar e quanto pagar. Aliás, o preço de um Big Mac costuma ser um bom indicativo para quem quer saber se tal cidade é um destino caro ou se tal moeda é mais forte que outra. Já vi até um estudo econômico sobre isso...
Enfim, voltemos. Se não me engano, comecei a dar mais valor ao Grande M durante minha viagem pela Espanha. Nada contra a culinária espanhola, que por sinal é deliciosa. Acontece que os espanhóis almoçam tarde, o que faz com que em algumas cidades seja pouco provável encontrar um restaurante aberto antes das três horas da tarde. E como fica a fome no meu caso, brasileiro pouco habituado a este horário e que, ainda por cima, tinha acordado cedo para aproveitar a cidade? Dê-lhe McDonald’s! O Grande M, mesmo na Espanha, parece estar aberto a qualquer hora e ainda tem a vantagem de oferecer um banheiro muitas vezes providencial. Lembro-me de estar lá, torturado pela fome e pelo sol em Sevilha (camisetas locais dizem que a equação E = m.c2 significa España = mucho calor2), balbuciando ao enxergar, quase como uma miragem, o letreiro amarelo brilhante: ah, o Grande M!
Na Índia, o que me levou ao McDonald’s foi uma conjunção de fatores: era, digamos assim, um restaurante confiável (a Índia não é um lugar em que se encontra facilmente um bom restaurante); era um porto seguro contra a comida exótica (por mais que eu tenha gostado da comida indiana, há momentos em que se quer algo mais comum); e era um lugar onde eu poderia satisfazer uma de minhas curiosidades. A saber: seria verdade que, na Índia, não vendem Big Mac? Sim, é verdade. No lugar dele, no cardápio, está o Maharaja Mac, bem parecido, mas feito de carne de frango. Há também um Vegetarian Mac. E, nas paredes, cartazes que dizem algo como: “Este restaurante se orgulha de não servir carne bovina.”
Não é curioso que mesmo o McDonald’s, propalado símbolo do capitalismo e do neoliberalismo, acabe se curvando a algumas particularidades locais?
Agora, o lugar onde eu mais apelei para o Grande M foi mesmo a China. Até me arrependo um pouco de não ter provado certas iguarias chinesas, mas não sei se eu teria aguentado: a comida de lá é mesmo exótica (nenhuma semelhança com a comida chinesa que se vende no Brasil), a ponto de não se ter ideia do que está no prato. Ou, quando se tem ideia, a coisa não parece ser das melhores, como bicos de galinhas e insetos. Sorte minha que, por mais que a China continue se dizendo comunista, já está aberta o suficiente para permitir, em todos os lugares por que passei, a presença ostensiva do Grande M.
McDonald’s.
Não pretendo discorrer sobre o McDonald’s como símbolo de ideologias políticas e econômicas nem sobre o valor nutritivo de um Big Mac. O que interessa a um viajante inveterado, em última análise, é que, seja no centro comercial de uma cidade cosmopolita ou às portas de uma fortaleza medieval, corre-se sério risco de esbarrar com ele.
O Grande M, mais onipresente que o Grande Irmão previsto por Orwell.
Claro que sou fascinado pela oportunidade de desvendar um pouco que seja de culturas diferentes quando viajo. Claro que isso inclui provar a culinária local. Ainda quero escrever mais sobre as experiências sensoriais, entre curiosas e encantadoras, que uma simples refeição pode proporcionar.
Mas confesso que também existem alguns momentos em que precisamos de um certo descanso: seja do bolso, quando os restaurantes convencionais são muito caros, ou do paladar, quando a comida local é exótica ou apimentada demais. Ou simplesmente quando olhamos sem cessar à nossa volta e não encontramos um único lugar que pareça oferecer uma refeição razoável e confiável. É nestas horas que ele nunca decepciona: dobramos a esquina e lá está o Grande M. Vamos a ele com a vantagem de já saber o que pedir, o que esperar e quanto pagar. Aliás, o preço de um Big Mac costuma ser um bom indicativo para quem quer saber se tal cidade é um destino caro ou se tal moeda é mais forte que outra. Já vi até um estudo econômico sobre isso...
Enfim, voltemos. Se não me engano, comecei a dar mais valor ao Grande M durante minha viagem pela Espanha. Nada contra a culinária espanhola, que por sinal é deliciosa. Acontece que os espanhóis almoçam tarde, o que faz com que em algumas cidades seja pouco provável encontrar um restaurante aberto antes das três horas da tarde. E como fica a fome no meu caso, brasileiro pouco habituado a este horário e que, ainda por cima, tinha acordado cedo para aproveitar a cidade? Dê-lhe McDonald’s! O Grande M, mesmo na Espanha, parece estar aberto a qualquer hora e ainda tem a vantagem de oferecer um banheiro muitas vezes providencial. Lembro-me de estar lá, torturado pela fome e pelo sol em Sevilha (camisetas locais dizem que a equação E = m.c2 significa España = mucho calor2), balbuciando ao enxergar, quase como uma miragem, o letreiro amarelo brilhante: ah, o Grande M!
Na Índia, o que me levou ao McDonald’s foi uma conjunção de fatores: era, digamos assim, um restaurante confiável (a Índia não é um lugar em que se encontra facilmente um bom restaurante); era um porto seguro contra a comida exótica (por mais que eu tenha gostado da comida indiana, há momentos em que se quer algo mais comum); e era um lugar onde eu poderia satisfazer uma de minhas curiosidades. A saber: seria verdade que, na Índia, não vendem Big Mac? Sim, é verdade. No lugar dele, no cardápio, está o Maharaja Mac, bem parecido, mas feito de carne de frango. Há também um Vegetarian Mac. E, nas paredes, cartazes que dizem algo como: “Este restaurante se orgulha de não servir carne bovina.”
Não é curioso que mesmo o McDonald’s, propalado símbolo do capitalismo e do neoliberalismo, acabe se curvando a algumas particularidades locais?
Agora, o lugar onde eu mais apelei para o Grande M foi mesmo a China. Até me arrependo um pouco de não ter provado certas iguarias chinesas, mas não sei se eu teria aguentado: a comida de lá é mesmo exótica (nenhuma semelhança com a comida chinesa que se vende no Brasil), a ponto de não se ter ideia do que está no prato. Ou, quando se tem ideia, a coisa não parece ser das melhores, como bicos de galinhas e insetos. Sorte minha que, por mais que a China continue se dizendo comunista, já está aberta o suficiente para permitir, em todos os lugares por que passei, a presença ostensiva do Grande M.