Acho que ouvi falar pela primeira vez de Seul quando eu ainda era criança e a cidade sediou os Jogos Olímpicos (a primeira vez em que tive alguma consciência do que eram jogos olímpicos). Mas, por um motivo ou outro, Seul nunca tinha estado na minha lista de prioridades de viagem. Até que outra olimpíada, os
jogos de PyeongChang, acabaram dando um incentivo, e eis que pousei na capital sul-coreana.
Trata-se de uma cidade menos exuberante que Pequim, embora esta não me pareça uma comparação totalmente justa, dadas as diferenças históricas e econômicas entre a
China e a Coreia. Por outro lado, Seul sai ganhando em pelo menos um ponto: a comida coreana é fantástica (assunto para um
próximo capítulo!).
Seul é uma mistura interessante de construções e culturas novas e antigas. Em alguns momentos parece que o novo prevalece, como quando se nota a profusão de arranha-céus por quase toda a parte central da cidade; mas então surge um bairro inteiro de casas em estilo tradicional. Isso para não citar os antigos palácios, templos budistas e portões. Em aspectos mais intangíveis, o contraste é ainda mais marcante: jovens usando as roupas tradicionais (hanbok), preocupados com a família e respeitando todas as normas de etiqueta convivem com a obsessão pelo k-pop (música pop sul-coreana), pelos telefones celulares e por maquiagem e cosméticos. Também nos banheiros, há sempre uma expectativa sobre o que se vai encontrar: o tradicional "buraco no chão" asiático ou moderníssimos vasos sanitários com luz interna e diferentes jatos de água e ar com temperatura regulável...
A despeito da dificuldade com a língua e apesar de todas as diferenças que costumamos experimentar quando viajamos ao Extremo Oriente, acabou sendo relativamente fácil se localizar e sentir-se em casa em Seul. Pelo menos a partir do momento em que comecei a entender o peculiar sistema de numeração dos prédios nas ruas coreanas! Tivemos a sorte de nos hospedarmos num
excelente albergue, confortável e muito bem-localizado, o que ajudou bastante. Claro que a Coreia do Sul tem seu quinhão de curiosidades asiáticas. Por exemplo: uma comida extremamente popular é o Spam, uma marca de carne enlatada que entrou no país trazida por soldados estadunidenses durante a Guerra da Coreia. No Ano Novo Lunar, uma das principais datas comemorativas, as pessoas se presenteiam com caixas enormes e bem-decoradas cheias de latas de Spam. Chá também é bastante popular; mas, ao contrário da China e de outros lugares onde se consome chá preto, verde e outras variações da mesma planta, na Coreia predominam infusões de cereais - cevada, trigo sarraceno, arroz...
No Centro, perto da prefeitura, encontramos uma pista de patinação no gelo e dividimos espaço com os coreanos. Em outros lugares, telões, lojas e exposições lembravam que o país vivia o clima olímpico. Seul, apesar de não ser sede dos jogos, é de longe a maior cidade do país e fica a duas horas dos locais de disputa. E assim, aos poucos, fomos encontrando e ficando íntimos de
Soohorang e Bandabi, os mascotes dos Jogos de Pyeongchang. Quando chegamos às competições propriamente ditas, já estávamos ambientados - ressalvado apenas o frio, que não deixava esquecer que era
inverno com todas as letras!