
Mas o fato é que, apesar disso e dos que dizem o contrário, têm o mesmo sangue e a mesma criação: compartilham a língua, a história, a paisagem, o clima, o tipo de comida. O que nos leva a esse assunto: o que comemos por lá. Confesso que minha expectativa com a comida coreana era bastante baixa: as descrições de pratos que eu achava na Internet não chamavam a atenção e a minha experiência anterior com comida na vizinha China, muito menos.

Verdade que na Coreia do Sul, a princípio, foi difícil encontrar o caminho das pedras - dos pratos, no caso. A oferta é muita, variada e numa língua pouco amigável. Mas, à medida que ia me familiarizando, descobria que a comida coreana não era nenhum bicho de sete cabeças. Havia opções para praticamente todos os gostos, era em geral menos apimentada que o previsto e, sempre, muito saborosa. De quebra, descobrimos em Seul alguns restaurantes no estilo bufê livre. Uma maneira excelente para provar de uma vez várias das possibilidades da cozinha coreana! De fato, em pelo menos uma ocasião saímos do restaurante rolando de tão cheios.

Na Coreia do Norte, curiosamente, a alimentação foi bem mais simples. Primeiro porque, já tendo passado por um "estágio" do sul, sabíamos um pouco melhor o que esperar. E principalmente porque nossas guias não mediam esforços para nos proporcionar experiências fantásticas. Em cada uma das nossas refeições norte-coreanas, uma coisa era certa: a quantidade de comida era sempre demasiada. A comida vem à mesa em pequenas vasilhas, cada uma com um preparo; quando se vê, a mesa está cheia de potinhos cada um com com arroz, sopa, kimchi, repolho, ovos, massa, carne, panqueca, tofu ou alguma outra coisa... Às vezes é difícil adivinhar a sequência ou a quantidade de pratos. Mais de uma vez nos saciamos apenas com a entrada, sem saber que outros tantos pratos ainda estavam por vir...


Quanto aos pratos propriamente ditos... Eram tantos e tão diferentes que é difícil deter-se explicando todos. Talvez um dos mais emblemáticos, tanto no sul quanto no norte, seja o bibimbap: arroz com legumes, tempero e eventualmente um ovo. A particularidade é que a comida vem toda separada num grande prato e cabe à própria pessoa misturar todos os ingredientes. Aliás, parece que esse tipo de solução, que requer algum "preparo" à mesa, é bastante comum. Outro exemplo é um tipo de hot pot coreano, uma sopa em que os ingredientes todos são cozidos na nossa frente. Para fazer um assado, a mesma coisa: a carne chega crua à mesa e é assada numa grelha ali mesmo. Aliás, esses restaurantes nos proporcionaram risadas impagáveis: certo dia, Lee, a guia, anunciou que o almoço seria num restaurante especializado em frango - chicken. Como a Renata é vegetariana, Lee logo completou: e baby chicken. Por baby chicken, entenda-se ovo de galinha... Não houve como não rir. Noutro dia, haveria pato assado (duck) no jantar; para ela, baby duck...

Pode ser difícil de acreditar, mas não tem como não ficar com água na boca falando disso tudo!