quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Eivør!

Eivør Pálsdóttir é uma cantora faroesa, dona de uma das vozes mais bonitas que já ouvi. Sim, pode ter sido o fato de ter conhecido suas músicas num lugar tão especial, e de tê-las como trilha sonora em alguns dos passeios de carro que fizemos por lá. O fato é que, desde o começo, a música faroesa me conquistou, e Eivør é um dos seus pontos altos.
Aliás, poucos lugares são tão propícios a viagens de carro quanto os países nórdicos, e nada melhor do que viajar ouvindo a música local.
Foi nesse contexto que, lá em Tórshavn, durante as últimas férias, descobri que Eivør faria uma apresentação na Dinamarca. Eu e a Renata somos, no mínimo, bastante preguiçosos no que se refere a ir a shows, temos inclusive anedotas particulares a esse respeito. Mas ambos sabíamos que Eivør era alguém que queríamos muito ver cantando e que dificilmente teríamos outra oportunidade.
Então toca pesquisar, planejar e replanejar. Não seria uma simples apresentação dela, mas sim um grande festival de música - o Nibe Festival, um dos maiores da Dinamarca. Exigiria um desvio de 200 km ao norte de onde pretendíamos ir mas, e daí? Repeti a mim mesmo: dificilmente teríamos outra oportunidade. Compramos ingressos, mudamos a reserva do hotel e, quando saímos de Ribe, nosso destino era o festival.
Acabamos não vendo nada da cidade de Nibe propriamente dita, um lugar pequeno pertencente ao município de Aalborg. Aliás, a Dinamarca andou sabiamente reformando o seu sistema administrativo, reduzindo o número de municípios de 270 para 98. Foi nessa reforma que Nibe perdeu o status de município. Bem diferente do que é comum acontecer no Brasil...
Então, enfim, o festival de Nibe. À primeira vista, não é tão diferente de outros eventos similares no Brasil - e que, tenho de admitir, estão longe de gozar da minha simpatia. Mas aos poucos fomos percebendo algumas diferenças: uma, a quantidade de famílias e crianças; outra, a educação das pessoas. Todas empolgadas com os músicos tocando no palco principal, e que não eram de forma alguma ruins. Quando chegamos, quem tocava era aparentemente algum clássico do pop rock dinamarquês; mas quem nos interessava era uma certa faroesa que iria se apresentar no palco lateral!
Quando Eivør chegou, não havia muita gente, e pudemos ficar bem perto do palco. O show começou pontualmente (mais uma diferença com relação ao Brasil).
E... Eivør é fantástica. O show é lindo, limpo, a sonoridade é absolutamente fiel às gravações. Ela canta em diferentes línguas, o que causa um dilema curioso: embora nós obviamente entendemos muito melhor as letras cantadas em inglês, tínhamos dois motivos para preferir as canções em feroês - além de a própria sonoridade da língua ser um atrativo a mais, eram as músicas que conhecíamos de antemão dos discos comprados nas Ilhas Faroe. Para quem tiver curiosidade de ouvir, é fácil achar vídeos dela no Youtube. Além disso, eu mesmo já usei música da Eivør num dos vídeos que publiquei (aqui tem a nossa canção favorita).
Mas voltando a Nibe... Não parou por aí. No meio da apresentação, um rapaz puxou assunto. Logo descobrimos que se tratava de um faroês que havia nos tomado por conterrâneos seus! Ele acabou ficando maravilhado quando contamos nossa história - modéstia à parte, não é todo dia que ele deve encontrar um casal de estrangeiros que foi até a sua terra para casar à moda faroesa e, de quebra, saiu na capa do jornal. Em poucos minutos, estávamos íntimos dele e dos seus amigos dinamarqueses.
Quando terminou a apresentação, Frode, o faroês, de repente virou para nós e lançou:
- Vocês querem falar com ela? Com a Eivør? Sim, vieram até aqui por causa dela, seria uma pena se não falassem com ela!
Eivør at Nibe FestivalE, dali a pouco, lá tinha ido ele conversar com algum segurança ou organizador do festival, depois com um dos músicos, depois com a própria Eivør, com a naturalidade que a gente mal consegue ter na nossa própria casa. Gesticulava, apontava para nós, logo começou a nos chamar.
Estávamos cara a cara com a Eivør.
Assim, inesperadamente, nem soubemos o que dizer! Pouco mais que o óbvio, apenas, mas consola-nos saber que ela deve ter se sentido prestigiada por ter dois fãs vindos de tão longe.
No final, o dia passou rápido. Quando percebemos, estávamos seguindo até Aalborg, onde iríamos pernoitar, como se tivesse sido tudo um sonho - lá estava a música de Eivør saindo pelo auto-falante do carro, mas o CD estava autografado e tínhamos novos amigos na lembrança e histórias para contar na bagagem.

2 comentários:

Renata Teixeira disse...

Eu acredito que não deve existir “ponto baixo” na música faroesa! Tudo o que já ouvimos e mesmo os CDs que compramos às cegas, eram incríveis!
Super verdade: somos dois preguiçosos no que diz respeito a ficar acordado até tarde da noite, nos amontoar em apresentações cheias de gente e com muito barulho. Mas sem sombra de dúvida, o show da Eivør super valia a pena!
O show foi simplesmente incrível. A voz dela é MARAVILHOSA e as músicas são perfeitas! Foi muito emocionante, muito tocante mesmo.
Fazer amigos é maravilhoso! Saímos do Nibe Festival com a alma renovada pelas músicas da Eivør e com quatro novos amigos.

Alice disse...

Engraçado que também tenho essa preguiça de shows e só fui a dois na minha pouca e curta vida. haha Acho o máximo vir aqui ler as viagens de vocês. Já estou ouvindo a Eivør!