Verdade que as tropas e os tanques de guerra há anos já foram embora. Mas o que primeiro nos recepcionou, quando desembarcamos do trem num final de tarde de fevereiro, foi o vento frio do inverno centro-europeu.
Então caminhamos até a Praça Venceslau (Václavské náměstí), que seria nosso endereço por alguns dias. Gosto de praças, e essa é uma área grande com jeito de porta de entrada para a cidade histórica - com efeito, as ruas vão ficando cada vez mais interessantes de se percorrer à medida que se caminha a partir da praça em direção ao centro.
Contra o frio, casaco, luvas, touca. E chocolate quente. O frio que encontramos em Praga não era extremo, mas também não era nada confortável; mesmo assim, trazia consigo uma vantagem: podíamos comprar chocolate quente na rua, com o pretexto de nos aquecermos, sem remorsos! E seguir caminhando com o copo da bebida, um pouco mais aquecidos e felizes.
Bem, Praga tem muitas das coisas de que eu gosto. Um centro grande e bonito, de arquitetura deslumbrante, perfeito para se perder a pé. Uma língua intrigante (mas não completamente incompreensível para quem já flertou com algum idioma eslavo). Comida farta, saborosa e ligeiramente diferente da nossa (e Kofola, um dos melhores refrigerantes que já provei). Uma moeda única (certo, admito que usar reais ou euros seria mais conveniente, mas lidar com coroas tchecas é mais divertido e dá um ar singular à viagem). No final das contas, Praga se mostra ao visitante como uma grande e fascinante cidade europeia, embora não tão cosmopolita quanto suas irmãs mais famosas, como Paris ou Roma. O componente surpresa conta a favor da capital tcheca - não temos tantas referências prévias de Praga como temos de uma Paris, por exemplo, que não se cansa de ser cenário de filmes, e assim se pode conhecer Praga à nossa maneira, sem preconceitos. Sim, a tendência é a de uma cidade cosmopolita, não vivemos mais a ocupação soviética e os grupos de turistas não deixam dúvidas disso; mas ainda há um ar levemente retrô na cidade. Ninguém vive à toa uma primavera de Praga, ou inverno.
Saindo do centro, experimentamos uma visita ao zoológico e uma partida de hóquei no gelo pelo campeonato local. Assim, mais uma vez oscilamos entre o familiar e o levemente exótico. De volta ao centro, descobrimos a Pařížská - rua de comércio chique, com lojas Louis Vuitton, Montblanc, Dior, que nos faz pensar numa Champs-Élysées e não por acaso tem nome de Paris. Não há dúvidas de que a Primavera passou por aqui.
E as livrarias, o relógio da igreja, o castelo, o rio. As ruas, as ruas deliciosas de se caminhar de mãos dadas. Quando o frio ou a fome pressionam, entramos num café. Então seguimos com uma certa leveza. O inverno, em Praga, vale a pena.