Um de meus prazeres quando viajo é andar pelos mercados atrás de produtos diferentes dos que encontro normalmente na minha cidade. Qualquer supermercado é um mundo a ser explorado; e se houver um mercado daqueles bem tradicionais que possa ser visitado, melhor ainda. Algumas descobertas interessantes foram feitas assim. Cogumelos, queijos, presunto, azeite, especiarias, frutas, doces, chás e vinhos são produtos que me chamam a atenção, para dizer o mínimo, Às vezes fico angustiado porque levar muitos desses itens para casa é simplesmente impraticável. O que não me impede de namorar as bancas de mercados e assemelhados!
O mercado da Boqueria, em Barcelona. A Rue Mouffetard, em
Paris (aquela de
uma foto do Cartier-Bresson). O Ver-o-Peso, em
Belém.
O Grand Bazaar e o Bazar das Especiarias, em Istambul. São templos clássicos dedicados a compras, especialmente a compras de comidas e seus ingredientes, e parada quase obrigatória para quem visita alguma dessas cidades. E há muitos outros, claro: lembro de comprar figos e trufas na
Croácia; queijo e mais trufas na
Itália; chás na
China; temperos na
Índia; e por aí vai...
Bem, acontece que, enquanto alguns itens podem ser transportados e armazenados com relativa facilidade (como pacotes de chá, pimenta ou cogumelos secos), outros têm uma logística mais complicada por pedirem refrigeração ou possuírem um curto prazo de validade - como é especialmente o caso da maioria dos queijos e dos cogumelos frescos. Ó ironia, queijos e cogumelos são dois dos produtos que mais chamam a atenção minha e da Renata em nossas viagens!
Claro que nem sempre temos uma cozinha à disposição, então acabamos abrindo mão de comprar certas coisas ou simplesmente compramos e guardamos até a próxima ocasião em que será possível aproveitá-las.
O problema é que é relativamente comum estarmos hospedados nalgum lugar que não tenha geladeira nem frigobar... Aí surge o verdadeiro dilema. O sensato seria abrir mão de comprar coisas como queijo e iogurte que não fossem estritamente para consumo imediato - mas quem disse que sou sempre uma pessoa sensata?
Descobri uma vantagem de viajar para lugares como
Islândia ou Dinamarca no inverno: com o frio que faz, pode-se simplesmente deixar alguma coisa do lado de fora da janela para se ter uma perfeita refrigeração natural! Prático e funcional, embora às vezes acabássemos colocando um amontoado de coisas na janela, formando uma pequena bagunça na fachada do prédio que terminamos chamando carinhosamente de "nossa favela"...
Então, certa feita, estávamos em Barcelona; visitamos a Boqueria, que é definitivamente um mercado fantástico, e saímos de lá com queijo e uns tantos cogumelos. No dia seguinte, rumamos para
Andorra, o pequeno país encravado nos Pirineus. Estávamos contando com uma geladeira no quarto do hotel, mas nada feito! E estávamos na primavera... Por mais que o país seja montanhoso (de fato, estava nevando em algumas partes), na capital a temperatura era amena, o que inviabilizava a "favelinha" na janela. "Azar", pensei, "essas compras precisam durar alguns dias"... Largamo-nas no quarto enquanto andávamos pela cidade. Ao regressar, à noite, minha nossa! O cheiro de queijo era indisfarçável! Abri a janela para que entrasse ar, embrulhei tudo da melhor forma possível e, para o dia seguinte, guardei o queijo na gaveta mais fechada. Mas não houve muito jeito de evitar que aquele cheiro tomasse conta do ambiente... Ficávamos pensando na pena que seria se o queijo não durasse mais uns dias (pois sabíamos com certeza que, mais para a frente, teríamos cozinha e geladeira à disposição) e também imaginávamos a cara que a camareira deveria fazer cada vez que entrava no nosso quarto!
Seguimos caminho, carregando queijo e cogumelos para Nice. Na chegada, mais uma decepção: o novo quarto também não tinha frigobar... Torcíamos para que a temperatura caísse e nos ajudasse a conservar nossas compras... Mas não teve jeito. O queijo (e o quarto) fedia mais do que nunca, e até os cogumelos começavam a mostrar o quanto estavam sofrendo... É terrível admitir, mas acabamos obrigados a descartar boa parte do queijo. Parte dos cogumelos seguiu o mesmo caminho. Pelo menos alguns se salvaram e resistiram até nossa parada seguinte, onde finalmente tínhamos geladeira e cozinha e pudemos degustá-los como mereciam. E como mereciam!