Meu maior medo é almoçar sozinho, jantar sozinho e me esforçar em me manter ocupado para não provocar compaixão dos garçons.
Fabrício Carpinejar
Muito já foi escrito sobre viajar sozinho. Sabe-se que tem vantagens e desvantagens. Entre as primeiras, a possibilidade de estar livre para fazer seus próprios planos, sem interferências (afinal, encontrar alguém que queira exatamente o mesmo que nós é possível, mas raro). Entre as desvantagens, o risco de não ter com quem conversar, não ter alguém para contar histórias e trocar impressões. Há quem drible esse risco se hospedando em albergues com quartos coletivos - não é a mesma coisa, mas existe a possibilidade de conhecer gente de outros lugares e com outras vivências, o que pode facilmente se tornar a parte mais gratificante de toda a viagem.
No final, dá-se um jeito e as coisas acabam se compensando umas às outras, às vezes com vantagens. Existe, porém, uma questão crítica com a qual é difícil se acostumar: poucos viajantes solitários escapam incólumes à síndrome da mesa para uma pessoa.
Chega uma hora em que a fome aperta e, seja almoço ou jantar, entra-se num restaurante. Fica-se sem ter com quem dividir este momento, a não ser o garçom, para quem pedimos uma mesa para uma pessoa. Passa-se pelas formalidades - a escolha do menu, a aceitação conformada de que a refeição será possivelmente mais cara ou menos variada do que se estivéssemos acompanhados. Mas viajar sozinho tende mesmo a ser mais caro, já sabemos disso. Então vêm os sintomas da crise: o viajante solitário está ali, mais sozinho do que nunca, esperando seu prato numa mesa em que não há ninguém a não ser ele próprio, num restaurante que, como todos os restaurantes, é um local de confraternização, onde à sua volta as pessoas não só comem como conversam, riem, fazem barulho, celebram datas, fecham negócios, propõem casamentos. É claro que o prato do viajante solitário, nessa ocasião, demora mais que o usual. Ele olha para os lados, para o alto, finge naturalidade. Lê o cardápio, os guardanapos, a parede. Amaldiçoa a bateria do celular que acabou justamente agora ou a conexão wi-fi que insiste em não funcionar. Lança olhares suplicantes a um garçom que, vindo com uma travessa fumegante, passa sem reparar nele. Pensa na vida, na família, na namorada, escreve mentalmente uma carta que nunca vai mandar. Suspira. Boceja. Está em uma linda ilha tropical com cacatuas e coqueiros ao seu redor... Tocam o seu ombro. É o garçom! O viajante solitário acorda, seu pedido chegou.
À sua volta, pessoas brigam, fazem as pazes, contam piadas, trocam presentes. Ele olha para o próprio prato, entretém-se com a salada, brinca com o molho. Por trás da comida, esconde-se do mundo. Na próxima vez, escolherei uma mesa mais no canto, pensa.
Nunca pensa em convidar outra pessoa. Ele se chama o viajante solitário e, no jantar seguinte, outra crise o espera.