Ah, o circo. Le Cirque d'Hiver. Esse foi uma inesperada surpresa. Eu havia visto os cartazes pela rua anunciando o espetáculo, mas não reparara muito, não chamaram a minha atenção. Outra coisa foi quando, caminhando, topamos com o circo ao vivo, em cores, tijolo e madeira. Estou falando de uma construção grande e linda, num estilo que só pode ser tão eclético quanto o próprio circo. Em Paris, o Circo de Inverno não é uma lona debaixo da qual os artistas se apresentam; é algo que eu não conhecia, um prédio redondo que, na melhor das comparações, lembra a mistura (ou evolução) de um circo tradicional com um charmoso teatro.
Atraídos, passamos pela porta e o ambiente interno acabou de nos conquistar. A bilheteria anunciava ingressos a partir de 10 euros para dali a 10 minutos. Compramos, contagiados por uma excitação infantil.
Sobe-se escadas, tal como num grande teatro. Lá em cima, espantado diante da grandiosidade de tudo, quase exclamei que a vista era bastante boa para ser o lugar mais barato da plateia. Então uma mulher vestida de paquita se apresentou para levar aos nossos verdadeiros lugares, marcados: literalmente as duas cadeiras mais escondidas, ainda mais no alto do que onde estávamos e ao lado de uma espécie de tapume. Mas a paquita disse (ou foi o que entendemos) que poderíamos mudar de lugar depois de começado o espetáculo, e assim fizemos, já que nem todas as cadeiras estavam ocupadas. Lugares confortáveis e bem frontais, embora longe da primeira fila.
O que tinha suas vantagens, pois nos deixava a salvo das brincadeiras dos palhaços. De quebra, bem divertidas - gosto de palhaços. Fazia anos que não ia a um circo e esse me encantou. Não só pela grandiosidade do ambiente. A banda tocava em sintonia com as atrações: tigres, gatos, cavalos e pombos; trapezistas (e meu coração que pulava da boca, eu que tenho certo medo de altura); o mágico; malabaristas, amazonas, dançarinas. Tudo a que se tem direito, inclusive um pequeno intervalo: o espetáculo era em dois atos, lá pelas tantas eu não sabia se estava num circo ou num teatro.
Tão diferente dos circos itinerantes de lona, e tão nostalgicamente parecido. Fiquei paralisado por uns instantes quando terminou a última apresentação. Mas paralisado com um sorriso no rosto: tinha descoberto que sim, ainda se faz circo como antigamente.