Aqui em Siena, mais forte do que eu esperava é a cultura do Palio, em torno do qual tudo parece girar.
O Palio, em sentido estrito, é uma corrida de cavalos que ocorre na cidade desde a Idade Média. Mas é também mais que isso, porque se trata de uma festa que vai bastante além da corrida propriamente dita. A prova é que ainda faltam meses para o Palio e, apesar disso, já se pode senti-lo em cada rua de Siena.
Pois bem, a cidade é dividida em 17 contrade (paróquias), as quais rivalizam entre si dentro e fora do Palio. Cada contrada tem seu território, suas cores, seu hino, sua história... Além disso, cada uma é ligada, direta ou indiretamente, a um animal-símbolo, quase como um mascote.
Eu sabia de tudo isso, só não sabia que as contrade eram representadas por animais...
Também sabia que, se eu tivesse oportunidade, acabaria criando simpatia por alguma das contrade. Lembrava de uma crônica em que o colorado L. F. Verissimo confessa ter torcido pelo conjunto vermelho e branco (imagino que seja a Contrada della Giraffa) levado pela preferência de cor.
Comigo aconteceu, porém, que já ao chegar no hotel eu me deparei com uma grande bandeira na parede - a bandeira da Contrada della Civetta, onde estou hospedado. E a partir daí comecei a conversar com o recepcionista sobre a bandeira e a contrada.
Ora vejam, civetta, ou gufo, é uma coruja. E conheço uma pessoa que imediatamente criaria simpatia pela civetta: minha mãe, que tem uma coleção de corujas famosa em toda a família e além (é comum, quando um de nós viaja, trazer uma lembrança em forma de coruja para ela), que tem umas tantas fotos de corujas, que é uma mãe-coruja.
Nem preciso dizer que fiquei imaginando qual seria a reação dela ao ver tanta civetta por todos os lados aqui! Nas bandeiras, nos artesanatos... E mais: ao entrar numa viela menos frequentada, topei com o ensaio de um grupo de jovens para o próximo Palio (a festa inclui tambores, música, desfiles e acrobacias); instintivamente quis saber qual era aquela contrada e adorei saber que era justamente a da Civetta... Um pouco adiante, uma apresentação de corais das contrade, e lá estava a Civetta orgulhosamente entre elas.
O bom disso tudo é que se trata de algo que dá vida, cor e movimento à cidade. Sim, envolve turismo e portanto dinheiro, mas as pessoas me pareceram genuinamente envolvidas - um envolvimento que lembra um pouco o dos cariocas com o carnaval.
Enfim, agora já tenho por quem torcer na próxima vez em que vier a Siena...
PS1: A foto é de um ensaio da Contrada della Civetta.
PS2: Entre os animais que representam as outras contrade, há uns curiosos, como a tartaruga e o caracol, uns imaginários, como o dragão, e uns menos surpreendentes (heraldicamente), como a águia e o lobo.
O Palio, em sentido estrito, é uma corrida de cavalos que ocorre na cidade desde a Idade Média. Mas é também mais que isso, porque se trata de uma festa que vai bastante além da corrida propriamente dita. A prova é que ainda faltam meses para o Palio e, apesar disso, já se pode senti-lo em cada rua de Siena.
Pois bem, a cidade é dividida em 17 contrade (paróquias), as quais rivalizam entre si dentro e fora do Palio. Cada contrada tem seu território, suas cores, seu hino, sua história... Além disso, cada uma é ligada, direta ou indiretamente, a um animal-símbolo, quase como um mascote.
Eu sabia de tudo isso, só não sabia que as contrade eram representadas por animais...
Também sabia que, se eu tivesse oportunidade, acabaria criando simpatia por alguma das contrade. Lembrava de uma crônica em que o colorado L. F. Verissimo confessa ter torcido pelo conjunto vermelho e branco (imagino que seja a Contrada della Giraffa) levado pela preferência de cor.
Comigo aconteceu, porém, que já ao chegar no hotel eu me deparei com uma grande bandeira na parede - a bandeira da Contrada della Civetta, onde estou hospedado. E a partir daí comecei a conversar com o recepcionista sobre a bandeira e a contrada.
Ora vejam, civetta, ou gufo, é uma coruja. E conheço uma pessoa que imediatamente criaria simpatia pela civetta: minha mãe, que tem uma coleção de corujas famosa em toda a família e além (é comum, quando um de nós viaja, trazer uma lembrança em forma de coruja para ela), que tem umas tantas fotos de corujas, que é uma mãe-coruja.
Nem preciso dizer que fiquei imaginando qual seria a reação dela ao ver tanta civetta por todos os lados aqui! Nas bandeiras, nos artesanatos... E mais: ao entrar numa viela menos frequentada, topei com o ensaio de um grupo de jovens para o próximo Palio (a festa inclui tambores, música, desfiles e acrobacias); instintivamente quis saber qual era aquela contrada e adorei saber que era justamente a da Civetta... Um pouco adiante, uma apresentação de corais das contrade, e lá estava a Civetta orgulhosamente entre elas.
O bom disso tudo é que se trata de algo que dá vida, cor e movimento à cidade. Sim, envolve turismo e portanto dinheiro, mas as pessoas me pareceram genuinamente envolvidas - um envolvimento que lembra um pouco o dos cariocas com o carnaval.
Enfim, agora já tenho por quem torcer na próxima vez em que vier a Siena...
PS1: A foto é de um ensaio da Contrada della Civetta.
PS2: Entre os animais que representam as outras contrade, há uns curiosos, como a tartaruga e o caracol, uns imaginários, como o dragão, e uns menos surpreendentes (heraldicamente), como a águia e o lobo.