Não é de hoje que os países do Cáucaso têm um aspecto de "ponte entre a Europa e a Ásia". A rota da seda, que durante séculos conectou o Ocidente ao Extremo Oriente, passava pela região. Embora a maior parte do tráfego a rigor passasse um pouco ao sul de Baku, é inegável a influência que a rota chegou a ter em todo o Azerbaijão.
Porém, o texto de hoje não é para falar especificamente da rota da seda e sim de nossas andanças, bem mais modestas, por alguns dos caminhos que hoje ocupam o seu lugar. Até onde pudemos comprovar, o Azerbaijão compartilha com outros ditos "países em desenvolvimento" um problema crônico: a precariedade da infraestrutura de transporte. Enquanto que na Europa Ocidental as estradas e os trens são um convite a viajar, no Cáucaso é preciso tempo e paciência. A começar pelos terminais de ônibus, que são um tanto confusos (e onde a lingua franca é o russo, e não o inglês). Além de ônibus e marshrutkas (vans ou miniônibus), há frequentemente a opção de se dividir um táxi: os taxistas ficam esperando em frente aos terminais e fazem a rota entre as principais cidades por cerca do dobro do preço e metade do tempo do ônibus, saindo assim que conseguem lotação completa para seu carro.
Assim, percorrendo uma estrada larga, reta e medianamente conservada, vai-se de Baku até Quba - uma cidade que, apesar de não ter as grandes atrações da capital (ou justamente por isso) permite um vislumbre de como é a vida no interior.
Umas tantas mesquitas, mas nenhuma tão imponente quanto as que se encontram nas grandes cidades do mundo islâmico. Algumas chegam a passar quase despercebidas no começo. Não muita gente na rua durante o dia, talvez por causa do sol inclemente que brilhava.
Onipresentes são os velhos carros soviéticos: muitos Ladas, em variado estado de conservação, e algumas relíquias de marcas desconhecidas para nós ocidentais.
Um inesperado bairro judeu com mezuzás nas portas, calmo como a tarde na planície azéri.
Um museu cheirando a novo a exaltar a bondade da pátria-mãe, com histórias de mártires de guerra e uma gigantesca bandeira do Azerbaijão. Quba foi cenário de um dos inúmeros massacres de gente inocente que nosso planeta já presenciou, e o governo aparentemente usa este fato para apontar o dedo à vizinha Armênia, com quem mantém uma relação conturbada. A visita ao museu é compulsoriamente guiada por uma mulher que, por baixo do discurso bem-decorado, deixa transparecer uma singela simpatia humana. Não perguntes por quem os sinos dobram, eles dobram por ti.
Um café-restaurante quase vazio numa ampla praça, onde nos abrigamos do sol e aplacamos a fome. Fomos atendidos por uma menina que mal falava umas palavras de inglês, mas cujos olhos brilhavam de fascinação por nós, dois estrangeiros vindos de uma terra tão longínqua.
Casas com portas entreabertas vendendo baklavas diversas e outros doces. Há uma variedade que é típica de Quba, a qual só encontramos lá, mas que na nossa opinião não chega a ser tão saborosa quanto a tradicional, feita de nozes, presente em todo o Azerbaijão.
Maçãs! A região é uma conhecida produtora de maçãs, e elas estão por toda parte.
Um hotel confortável, imponente e deliciosamente anacrônico. Tudo em Quba parece ser maior do que precisaria ser dado o tamanho da população (38 mil), e o hotel não foge à regra.
E uma estrada sinuosa que vai além dos caminhos mais batidos, um trajeto inacreditável que sobe 1800 m em 40 quilômetros e só é percorrido a bordo de Ladas Niva: o caminho até as montanhas. Aventurar-se em encruzilhadas é descobrir lugares surpreendentes e este em particular - a vila de Xinaliq, no topo de umas das montanhas de Quba - é história para o próximo capítulo.