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Pristina, Kosovo |
Neste ano, passamos por dois dos países mais pobres e menos desenvolvidos da Europa - Kosovo e Albânia. Poucos meses depois, visitávamos dois países no extremo oposto da lista - os notoriamente ricos Liechtenstein e Suíça. A coincidência não foi planejada, tanto que só me dei conta dela algum tempo depois. Isso não quer dizer que não tenhamos podido fazer algumas comparações muito interessantes.
A viagem ao Kosovo fora sonhada e planejada durante bastante tempo. Estávamos um pouco apreensivos com o que encontraríamos lá, dado o histórico recente de conflito armado na região. Mas acabou sendo uma viagem muito tranquila (além de fascinante!). Na Albânia estivemos só de passagem, literalmente, mas vimos os impressionantes e onipresentes abrigos antibombas que estão por toda parte. Também aprendemos que o próprio Kosovo é, decididamente uma região (de etnia) albanesa.
Para visitar Suíça e Liechtenstein, estávamos bem mais despreocupados. Claro que qualquer viagem sempre requer algum planejamento, mas, neste caso, tudo era mais fácil: há informações fartas e detalhadas na Internet; são países (principalmente a Suíça) bastante habituados a receberem turistas; e, de quebra, têm uma longa tradição de não-envolvimento bélico (neste ponto, mais uma vez, o oposto do Kosovo).
Mas afinal... Como é estar lá realmente? Nada substitui a experiência real do lugar, e toda viagem sempre traz alguma surpresa. Então vamos por partes...
As pessoas
Praticamente todas as pessoas com quem conversamos no Kosovo são simpáticas e sorridentes. Mesmo em lugares simples, sentíamos que nosso interlocutor tinha um interesse genuíno na nossa presença ali, quase como se coubesse a ele retribuir o fato de receber visitas de tão longe. De certa forma, a hospitalidade faz parte da cultura albanesa. Não há como dizer que não fomos bem tratados!
Já na Suíça, não é que as pessoas não sejam simpáticas - longe disso. Mas são menos efusivas e mais fechadas. Coisas de um país maior (embora as cidades suíças nem sempre sejam tão maiores que as kosovares) e mais cosmopolita. Ainda assim, é difícil generalizar. No pequeno principado de Liechtenstein, por exemplo, fomos incrivelmente bem recebidos por uma de nossas anfitriãs, tivemos um curioso momento de conversa com operários de uma obra e não há como menosprezar o fato de que estivemos cara a cara com a família real no aniversário do país.
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Triesenberg, Liechtenstein |
Limpeza e organização
Aqui é onde a comparação se faz mais gritante. No Kosovo e na Albânia, o que se vê é de entristecer: rios lindíssimos, de águas azuis cristalinas, salpicados de lixo. Cães de rua revirando sujeira. Prédios abandonados. Parte o coração, e fica-se pensando o quanto disso tudo é culpa (ou consequência) da guerra. Afinal, um país que tem poucos recursos e precisa se reconstruir deve estabelecer prioridades... Mas, ao mesmo tempo em que essa contingência não ajuda em nada, é difícil acreditar que se trate só disso e não de algo mais profundo. Assim como o hábito balcânico de fumar sempre e em todo lugar, difícil de aceitar para quem não está acostumado.
A Suíça, por outro lado... é a Suíça. Não à toa virou exemplo de organização, pontualidade e limpeza para boa parte do mundo.
Comida
A culinária do Kosovo, como de outros lugares dos Bálcãs, reflete muito da antiga ocupação turca: no café da manhã (e no próprio café), no burek, na bebida à base de iogurte (ajran), no croquete (ćevapi)... São coisas que, embora saborosas, chamam-nos a atenção, antes de tudo, por serem levemente exóticas.
Já na Suíça a comida não é exótica, pelo contrário: é a terra de alguns clássicos que eles sabem executar à perfeição e entre os quais reinam supremos o fondue e o chocolate ao leite.
Preços
Claro, é quase injusto comparar: os preços no Kosovo são bem mais baixos que na Suíça e ainda mais que em Liechtenstein. Quer dizer que estes últimos são países caros? Depende. Recebe-se pelo que se paga: serviços de primeira qualidade, transporte público farto, confiável e impecável (e, em alguns casos, gratuito); qualidade de vida. No Kosovo as coisas são mais baratas, mas é triste ver obras inacabadas, estruturas precárias, museus subutilizados... E, no final das contas, isso é o que dói mais: saber que a corrupção e a ineficiência privam muita gente de ter acesso a coisas que seriam básicas em outros lugares.