Sendo a capital e maior cidade do Kosovo, Pristina é também a mais famosa. Assim, havia também uma expectativa para finalmente conhecê-la. Por coincidência, chegamos a Pristina no dia 17 de fevereiro, aniversário da declaração de independência do país - algo bastante significativo para um estado que ainda está tentando se firmar política e economicamente. Encontramos o centro lotado de pessoas marchando, música, crianças com cartazes e as ruas decoradas com bandeiras. Mas foi no dia seguinte, com a cidade mais calma, que pudemos conhecê-la melhor.
Com 200 mil habitantes, a cidade tem um bom tamanho - uma longa e bonita rua de pedestres (a Bulevardi Nënë Tereza), universidade, estádio, shopping center, teatro, restaurantes, monumentos. É, ao mesmo tempo, precária: o estádio (interditado, em obras) oferece uma triste visão; há muito lixo nas ruas; a estação de trem está abandonada; os museus (apesar da boa vontade de quem trabalha lá) contam com exposições um tanto decepcionantes. Sem contar que não há sinal da presença sérvia por lá (a maior igreja ortodoxa do centro está abandonada e em ruínas). Além disso, parece que os serviços públicos são notoriamente pouco confiáveis: dizem que há ou havia falta de energia elétrica (se é verdade, não presenciamos) e de água (isso sim experimentamos onde ficamos hospedados).
Aliás, o apartamento em que nos hospedamos acabou sendo parte importante da nossa experiência em Pristina (e, por que não dizer, no próprio Kosovo). Era um apartamento num velho prédio residencial da época iugoslava a poucos passos do coração da cidade. Exceto pela localização, não podíamos dizer que era luxuoso. Apesar disso, cada detalhe (da programação da televisão aos cortes de água que aconteciam toda madrugada e que, conforme apurei, são uma precária maneira de minimizar o desperdício que ocorre devido a vazamentos nas linhas da cidade) nos deixava com a sensação de ainda estar vivendo em plena época da Guerra Fria - ou da antiga Iugoslávia. Não podíamos ter experiência mais autêntica que essa, e não nos arrependemos por um instante. Sem contar que da nossa própria sacada tínhamos a vista da Biblioteca Nacional - provavelmente o prédio mais chamativo do país. A biblioteca já foi acusada de ser um dos prédios mais feios do mundo mas, a despeito disso, eu realmente a considero de uma beleza peculiar, ainda mais depois de ponderar que suas cúpulas, além de funcionais (permitem a entrada de luz natural) remetem aos típicos chapéus albaneses da região e que o interior é mais bonito ainda que o exterior.
Isso tudo posto, claro está que há também vários pontos da cidade que realmente valem a visita. Há principalmente duas outras instituições chamam a atenção no Kosovo. De um lado, as mesquitas, que, como em outras regiões de população muçulmana, estão por toda parte, com seus minaretes que chamam os fiéis para a oração. De outro lado, o chamado mais mundano das ëmbëltore - as confeitarias locais. Há várias delas, todas oferecendo doces irresistíveis a preços irrisórios. Para acompanhar, outra instituição local: o café, de preferência preparado à moda balcânica (nítida influência turca). Não nos faltaram doces na nossa experiência da capital kosovar.