domingo, 6 de setembro de 2015

Em Macau, patacas

Macau é uma cidade definitivamente curiosa.
Para começar, fica na China e, ao mesmo tempo, fora dela. Tecnicamente Macau é uma Região Administrativa Especial da China, o que significa dizer que possui um grande grau de autonomia, bem diferente do restante do país. Assim, qualquer um que entra ou sai da cidade, incluindo os próprios chineses, precisa mostrar o passaporte e passar pelas formalidades de imigração (turistas têm de tomar cuidado: como a maioria dos vistos para a China permite uma única entrada no país, uma visita a Macau no meio da viagem significa que o retorno à China não será permitido com o mesmo visto).
No nosso caso, chegamos em Macau após uma travessia de barco desde Hong Kong (outra cidade tão chinesa e não-chinesa como Macau, aliás). A primeira impressão de Macau é imponente: uma cidade moderna, de prédios altos e arquitetura arrojada. Após desembarcar, descobrimos que os arranha-céus dividem espaço com velhas ruelas de casas tipicamente chinesas. Ou quase.
Macau foi uma colônia portuguesa durante séculos e só passou oficialmente à China no final de 1999. Então, apesar de a maioria da população ser de etnia chinesa, o português continua sendo a primeira língua oficial. As placas de ruas estão escritas em chinês e em português. Lusófonos como nós não podem deixar de achar graça quando, no ônibus, uma voz gravada anuncia cada parada: primeiro em cantonês, depois num português com sotaque europeu e finalmente em inglês. Assim:
- Beishang de jietou shengmu - rua Nossa Senhora das Dores - Nossa Senhora das Dores street.
Sim, e as ruas têm, quase todas, esses nomes tipicamente portugueses. Infelizmente para nós, parece que hoje em dia pouca gente em Macau ainda é fluente na última flor do Lácio.
Na cidade, é verdade que vimos muito pouco do que os guias dizem ser os principais atrativos de Macau: de um lado, a parte antiga e suas ruínas de igrejas e outras construções portuguesas e, do outro lado, os brilhantes cassinos. São dois lados quase opostos, diga-se. As ruas mais antigas são estreitas, confusas e apinhadas de lojas diversas, lembrando bairros similares em outras partes da China. No lado moderno, Macau tem um quê de Las Vegas do Oriente (ou de Mônaco chinesa, com o Grande Prêmio de Macau percorrendo suas ruas) que deve ser impressionante à noite - mas só a vimos de dia e, de qualquer forma, o giro das roletas não exerce tanto fascínio sobre nós. Em vez disso, reparamos nos detalhes. Lembram da moeda corrente de Patópolis? A pataca? A "moeda número 1" do Tio Patinhas era uma pataca. E a moeda de Macau? A pataca. Pois é. Como não gostar de um lugar onde as coisas são pagas em patacas?

3 comentários:

Renata Teixeira disse...

Muito interessante passear por Macau e muito bom gastar em patacas!! Me senti em uma história em quadrinhos!! Me lembro dos prédios com "varandas" improvisadas para guardar quincas - quanta tralha! Um lugar muito curioso e eu gostaria de passado mais tempo por lá. Acho que se tivéssemos tempo, poderíamos ter encontrado algum senhorzinho que nos contasse sobre as mudanças no país nessa troca de Portugal para a China. Queria muito saber sobre as escolas de lá. Efim, vamos guardar nossas patacas e torcer para termos chance de gasta-las um dia!

Eduardo Trindade disse...

Somos mesmo bons nisso de conversar com algum senhorzinho local, não é, Renata? Vamos ter de voltar lá. Quem sabe não fazemos o roteiro dos países lusófonos algum dia? Precisamos correr antes que o português desapareça de Macau, da Índia...

rejane disse...

Seria muito bom voltar lá! !!