Quando se viaja, é difícil gerenciar o estoque de roupas limpas.
Em férias, acabamos levando peças que duram aproximadamente uma semana; para as semanas seguintes, é necessário lavá-las: no próprio quarto do hotel, ou então em alguma lavanderia. Em geral, considero a primeira opção mais simples e cômoda, mas nem sempre ficamos numa mesma cidade o tempo suficiente para as roupas secarem. Então a lavanderia é mais conveniente.
E acontece que estávamos no verão de
Guilin, província chinesa de Guangxi, uma combinação que faz qualquer um empapar em poucas horas na rua. A Renata já estava ficando sem roupas limpas.
Daí, depois de infrutíferas buscas pelas ruas e de perguntar para algumas pessoas, descobrimos que não é tão fácil assim achar uma lavanderia em Guilin.
O que fiz, então, foi procurar uma rede wifi e jogar "laundry" no Google Maps, que então mostrou a "Jiajie Laundry" numa ruazinha a 17 min de caminhada. Decorei a palavra chinesa para lavanderia e gravei no celular os três ideogramas que significam "lavagem de roupas". E lá fomos nós.
O Google nos levou a um endereço que se resumia a um espaço pequeno e atulhado de coisas, que parecia uma oficina mecânica ou loja de ferragens, mas que tinha entre a infinidade de quinquilharias um ferro de passar... e um velhinho chinês com cara de chinês e unhas amareladas que certamente nunca ouvira falar em Google Maps.
Mostrei para ele os ideogramas "lavagem de roupas" na tela do celular e ele assentiu. (Ressalve-se aqui o fato de que mímicas não são universais, gestos que faríamos no Brasil para simbolizar uma lavagem, perguntar o preço ou mesmo indicar os números perdem o sentido na China.) Bem, perguntei o preço (em mandarim) e ele respondeu 50 yuans - bem razoável. Então faltava descobrir a que horas buscar a roupa, mas eu simplesmente esquecera como se dizia isso em mandarim. Arrisquei: "zhenme zhou?" Ele corrigiu: "zhenme dian?" Repeti "zhenme dian?", sem muita convicção. Apontei para o relógio. Ele não entendeu. Insisti. O velhinho falou: "qi dian". Bem, "qi" é sete, deduzi que deveríamos passar lá às sete horas - eu estava quase seguro de que "dian" era a palavra chinesa para "hora". "Quase seguro?" - perguntou a Renata - "Tem certeza de que não são sete dias?" Eu não tinha tanta certeza. Voltei ao relógio, fui contando as horas em chinês e o velhinho sorria da situação, mas não conseguia transmitir segurança.
Então passou um outro chinês na rua. Bilíngue! E nos ajudou, confirmando em inglês que podíamos buscar as roupas às sete horas, afinal. O velhinho da oficina-lavanderia sorriu e, com ingênua cordialidade, ofereceu cigarros que recusamos gentilmente. Saímos deixando as roupas, apesar de que sentíamos certo calafrio a cada vez que víamos varais estendidos pelas ruas.
Voltamos pontualmente às sete. A alguma distância, reconhecemos as roupas no varal - aparentemente limpas! A alegria foi instantânea, banal e contagiante. O velhinho não estava lá, mas da porta ao lado algumas pessoas nos observavam e vieram nos atender. Sorriram, recolheram as roupas, pagamos. Convidaram-nos para entrar e tomar chá. Recusamos como havíamos recusado os cigarros, apesar de que fiquei com uma vontade de aceitar... Se ao menos conseguíssemos manter uma conversa mínima com eles! Bem, pelo menos a missão estava cumprida: roupas aceitavelmente limpas por mais alguns dias.