sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A faca mongol

Não é de surpreender que não haja tantas oportunidades de compras na Mongólia Interior quanto em Pequim. Mas eu, que ouvira falar das facas mongóis, queria vê-las e levar alguma para casa.
Há objetos que me fascinam, e entre eles estão as facas - fascínio que é provavelmente consequência da cultura gaúcha e que desde pequeno vi cultivado em casa, pois lembro do orgulho com que meu vô e meu pai exibiam suas lâminas favoritas.
E os mongóis, que em termos de cultura campeira estão para a China como os gaúchos estão para o Brasil, é claro que teriam alguma faca para fazer bonito na minha própria coleção.
Encontrei-a quando eu já não esperava: no acampamento em que estávamos havia uma lojinha, e na lojinha havia algumas facas. A maioria delas, de bainhas coloridas, objeto de decoração para turistas. Algumas, mais autênticas, tinham o cabo em osso, lâminas de qualidade e passavam a segurança de que, mais que para decorar, haviam nascido para serem usadas.
Tomei uma delas na mão e me apaixonei. Perguntei o preço, já me preparando para pagar algo exorbitante. Razoáveis 140 yuans - uma faca de qualidade semelhante no Brasil custaria pelo menos o dobro ou triplo. Controlei-me para não escolher uma segunda faca!
Saí plenamente realizado pela aquisição do meu objeto de desejo: uma faca mongol! Já me imaginava exibindo-a e usando-a no Brasil.
No dia seguinte, fomos à cidade de Baotou, onde pegaríamos o avião para ir da Mongólia Interior até Pequim. Fizemos o check-in, despachamos as malas... Eis que a bagagem é imediatamente inspecionada pelo raio X e me chamam a um canto: há uma faca na minha mala? Sim, mas é uma bagagem despachada! Não importa, não é permitido levar facas no avião para fora da Mongólia Interior. Quem diria!
Imaginem minha frustração. Não adianta discutir, também não adianta pensar em mandar a lâmina pelo correio - dizem-me que não é permitido, e pronto.
Deixei-a com PangPang, a prestativa chinesa que nos acompanhou em nossa visita à Mongólia Interior e que demorou um instante a entender que estava ganhando aquele presente.
E assim foi a história da faca mongol que fez parte da minha coleção durante um dia apenas.

3 comentários:

Cecília Sousa disse...

Que frustrante... :/

Eduardo Trindade disse...

Pois é!... Às vezes cruzar fronteiras exige, digamos, um desapego inesperado...

Renata Teixeira disse...

Eu sei o quanto você é um apaixonado por facas! Já te vi comprando lâminas islandesas, finlandesas, alemãs e estas mongóis. Me lembro também quando quase comprou uma faca... gaúcha! Numa festa em Gramado. Não podíamos fazer nada, não te deixariam sair com a faca. Sacanagem a moça da loja ter vendido...