terça-feira, 10 de setembro de 2013

(Nem sempre) roupa suja se lava em casa

Quando se viaja, é difícil gerenciar o estoque de roupas limpas.
Em férias, acabamos levando peças que duram aproximadamente uma semana; para as semanas seguintes, é necessário lavá-las: no próprio quarto do hotel, ou então em alguma lavanderia. Em geral, considero a primeira opção mais simples e cômoda, mas nem sempre ficamos numa mesma cidade o tempo suficiente para as roupas secarem. Então a lavanderia é mais conveniente.
E acontece que estávamos no verão de Guilin, província chinesa de Guangxi, uma combinação que faz qualquer um empapar em poucas horas na rua. A Renata já estava ficando sem roupas limpas.
Daí, depois de infrutíferas buscas pelas ruas e de perguntar para algumas pessoas, descobrimos que não é tão fácil assim achar uma lavanderia em Guilin.
O que fiz, então, foi procurar uma rede wifi e jogar "laundry" no Google Maps, que então mostrou a "Jiajie Laundry" numa ruazinha a 17 min de caminhada. Decorei a palavra chinesa para lavanderia e gravei no celular os três ideogramas que significam "lavagem de roupas". E lá fomos nós.
O Google nos levou a um endereço que se resumia a um espaço pequeno e atulhado de coisas, que parecia uma oficina mecânica ou loja de ferragens, mas que tinha entre a infinidade de quinquilharias um ferro de passar... e um velhinho chinês com cara de chinês e unhas amareladas que certamente nunca ouvira falar em Google Maps.
Mostrei para ele os ideogramas "lavagem de roupas" na tela do celular e ele assentiu. (Ressalve-se aqui o fato de que mímicas não são universais, gestos que faríamos no Brasil para simbolizar uma lavagem, perguntar o preço ou mesmo indicar os números perdem o sentido na China.) Bem, perguntei o preço (em mandarim) e ele respondeu 50 yuans - bem razoável. Então faltava descobrir a que horas buscar a roupa, mas eu simplesmente esquecera como se dizia isso em mandarim. Arrisquei: "zhenme zhou?" Ele corrigiu: "zhenme dian?" Repeti "zhenme dian?", sem muita convicção. Apontei para o relógio. Ele não entendeu. Insisti. O velhinho falou: "qi dian". Bem, "qi" é sete, deduzi que deveríamos passar lá às sete horas - eu estava quase seguro de que "dian" era a palavra chinesa para "hora". "Quase seguro?" - perguntou a Renata - "Tem certeza de que não são sete dias?" Eu não tinha tanta certeza. Voltei ao relógio, fui contando as horas em chinês e o velhinho sorria da situação, mas não conseguia transmitir segurança.
Então passou um outro chinês na rua. Bilíngue! E nos ajudou, confirmando em inglês que podíamos buscar as roupas às sete horas, afinal. O velhinho da oficina-lavanderia sorriu e, com ingênua cordialidade, ofereceu cigarros que recusamos gentilmente. Saímos deixando as roupas, apesar de que sentíamos certo calafrio a cada vez que víamos varais estendidos pelas ruas.
Voltamos pontualmente às sete. A alguma distância, reconhecemos as roupas no varal - aparentemente limpas! A alegria foi instantânea, banal e contagiante. O velhinho não estava lá, mas da porta ao lado algumas pessoas nos observavam e vieram nos atender. Sorriram, recolheram as roupas, pagamos. Convidaram-nos para entrar e tomar chá. Recusamos como havíamos recusado os cigarros, apesar de que fiquei com uma vontade de aceitar... Se ao menos conseguíssemos manter uma conversa mínima com eles! Bem, pelo menos a missão estava cumprida: roupas aceitavelmente limpas por mais alguns dias.

4 comentários:

Cecília Sousa disse...

Sempre quis conhecer a China. Tive a chance de conhecer alguns chineses quando morei na França e eles mesmo especialmente simpáticos.
Quanto a lavar roupa... lembro de ter me enrolado na França; imagine na China!
Se quiser dar uma olhada: http://bernardoececilia.blogspot.com.br/2008/09/idia-era-simples.html

Eduardo Trindade disse...

Hahaha! Nossas experiências são diferentes, mas, ao mesmo tempo, têm em comum esse aprendizado que acabamos tendo na marra quando estamos num lugar estranho à nossa rotina!

Renata Teixeira disse...

Deu um frio na barriga entregar quase todas as minhas roupinhas para aquele moço, até simpático, mas que não nos entendia... será que ele tinha mesmo entendido que era pra lavar a roupa? Quase morri de felicidade ao ver minhas conhecidas (e surradas) peças lá na rua secando!!!! Viajar é fantástico!!!

rejane disse...

Essas histórias que tornam as viagens mais felizes e inesquecíveis!!!!!