Sendo um dos países mais setentrionais do planeta, a
Islândia é tida entre os melhores lugares para se ver a Aurora Boreal, uma dança de cores que ocorre no céu nas noites de inverno devido a um fenômeno físico e geográfico. Ir à Islândia e não ver a Aurora Boreal é como, com o perdão da frase-feita, ir a
Roma e não ver o Papa.
Estivemos num dos melhores lugares da Islândia para se ver a Aurora Boreal: a ilha de
Grímsey, no Círculo Polar e a bons quilômetros de qualquer grande centro urbano. Infelizmente, o tempo estava bastante fechado e, quando não se consegue ver o céu além das nuvens, também não se consegue ver a Aurora.
Voltamos a Reykjavík (Reiquejavique), a capital. Lá, a Aurora Boreal é um negócio com excursões organizadas que não chegam a prometer o espetáculo de luzes mas oferecem ingresso grátis na noite seguinte caso a saída não tenha sucesso.
Nas primeiras noites, o céu estava tão fechado que sequer tentamos (acho mesmo que nenhum "Northern Lights Tour" saiu). Na noite passada, a perspectiva estava mais promissora - céu querendo abrir durante o dia e "Aurora Forecast", a previsão de Aurora Boreal, otimista.
Pegamos então um ônibus de excursão que, às 21h, nos levou a uns 40 quilômetros fora da cidade e parou à beira da estrada no meio do nada. Nada mesmo, nenhuma luz, apenas vento e a temperatura congelante. Descemos do ônibus e ficamos olhando para o céu. Negrume total. Lembrei-me de quando era bem criança e do cometa Halley - a decepção de não ver nele motivo para a empolgação dos adultos.
Então, uma meia hora depois, sem que tivéssemos avistado a Aurora Boreal, o ônibus resolve ir para um lugar mais longe. E mais frio. Minhas pernas congelam, meus dedos também. O nariz, nem se fala. Dizem que fotografias captam a Aurora melhor que o olho humano, então aponto minha câmera a esmo para o céu, em vão. Vou me sentindo cada vez mais bobo.
Enquanto uns seguem esperançosos à beira da estrada, outros desistem e entram no ônibus estacionado. Entro também - pelo menos é mais quentinho e, se a Aurora resolver aparecer, certamente terei tempo de sair para ver. Mas nada. Cochilo. Aos poucos, já não quero outra coisa senão voltar para a cidade. Surgem as brincadeiras:
- Vou oferecer mil coroas para um piá passar apontando uma luz verde com uma lanterna e acabar com essa palhaçada...
- Aurora Boreal? Isso é conto-do-vigário islandês...
- Os islandeses acreditam em duendes, trolls, fantasmas... E na Aurora Boreal. Como é que fomos acreditar nisso também?
Pelo menos demos boas risadas que ajudaram a passar o tempo. Era mais de meia-noite quando a expedição assumiu o fracasso e o ônibus resolveu retornar à cidade. Já era praticamente uma hora da manhã quando reencontrei minha cama. No dia seguinte, fui embora da Islândia sem ver a Aurora.
Mas, pensando bem, também não vi o Papa quando estive em Roma.