Gosto de pensar que há imagens que são poemas, como há poemas que são declarações de amor. Às vezes, é tudo a mesma coisa.
Assim como há imagens, poemas e declarações que são uma pessoa.
A maior dor de minhas últimas férias foi não poder viajar com minha namorada. Não é fácil estar longe de quem se gosta, ainda mais quando pretendia-se estar perto, quando planejava-se estar lado a lado.
Menos mal que vem o reencontro, as tristezas passam, ficam as lembranças boas.
Há detalhes que são as melhores lembranças. Há detalhes que são o mais importante.
Minha namorada adora cachorros. Quando parti, ela me pediu uma única coisa: não que lhe trouxesse algum suvenir, camiseta, chaveiro, garrava de vinho, buquê de flores, livro importado, brinco de pérolas, colar de presente; pediu que eu lhe trouxesse fotos de cachorros dos lugares por onde passasse.
Forma singela de atenção.
"Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...", disse a raposa ao Pequeno Príncipe.
Cães foram meus campos de trigo. Lembrei-me da princesa que me esperava, além do oceano, e quase sem perceber fiz uma viagem canina. Atentava sempre, percorria com os olhos as ruas e as calçadas, sacava de repente a máquina fotográfica com a velocidade do Velho Oeste - isso quando não a tinha já preparada, dedo no obturador.
Geralmente sou tímido demais para conversar com cachorros, ou com seus respectivos donos, no meio da rua. A maioria das imagens saiu tremida, improvisada, artesanal. No fundo, gosto disso: fotos espontâneas como o sentir. Às vezes, aproximava-me, ousava puxar assunto. Para uma ou outra pessoa, contava a história - eu, o homens dos cães.
Gosto de pensar que há detalhes que enriquecem as viagens. Como há detalhes que alimentam o amor. Minha amada gosta de cachorros, eu a amo, ela me ama. Aonde quer que eu vá.