Desembarcar em terra, depois de tantas horas no barco (tinham sido duas noites a bordo e mais
um dia de travessia), é no mínimo emocionante. No meu caso, assim que o dia amanheceu, pulei na água e literalmente nadei até meus pés encontrarem a areia da praia. A vontade era de gritar pela chegada ao destino e pelo dever cumprido de ter trazido o Pandorga em segurança. Contentei-me com uma primeira caminhada. Em seguida, uma ducha de água doce que havia ali perto. Logo desembarcou também o Arthur.
Estávamos na Praia Grande de Palmas, aproximadamente a meio caminho entre a Vila do Abraão (o "centro" da ilha) e a famosa Praia de Lopes Mendes. Sabendo que bastava uma caminhada através de uma trilha na mata para chegar a esta última, que eu não conhecia, resolvi ir até lá. São cerca de 40 min leves e bastante agradáveis. Volta e meia, descobre-se uma vista exuberante entre o mato. O tempo todo se cruza com turistas, muitos deles estrangeiros - esta é provavelmente a trilha mais movimentada da ilha. E Lopes Mendes. A praia é, sim, muito bonita. Mas... ouso dizer que não tão mais bonita que outras da ilha. E com a desvantagem de ser relativamente cheia: a quantidade de gente tomando sol na areia, jogando frescobol, surfando, faz lembrar mais uma concorrida praia do continente que um isolado recanto de uma ilha cuja principal virtude, na minha opinião, é ser ainda pouco explorada. Em outras palavras: pode ser uma praia bonita, mas não é por causa dela que eu faria toda essa travessia... Olhei, explorei, tirei fotos e retornei. No caminho, ainda conversei bastante com quem fazia a trilha comigo: um dos muitos cachorros da ilha e um grupo de curitibanos que estavam lá de visita.
De volta à Enseada de Palmas, embarcamos rumo à próxima parada: Abraão. Este é o único lugar em toda a ilha que se parece com uma cidade, isto é, tem ruas, restaurantes, comércio variado e bastante gente circulando. Pelo mesmo motivo de Lopes Mendes, o Abraão sozinho não é o lugar que faz uma ida a Ilha Grande valer a pena. Mas, para quem pretendia, como nós, ficar todos estes dias explorando a baía e suas praias e enseadas, é o lugar perfeito para ter um descanso, almoçar num restaurante médio, provar um açaí e reabastecer o barco com comida, água e gelo.
O dia não passou sem um inconveniente: percebi que um dos dois lemes do Pandorga estava com uma folga maior do que seria normal, fui verificar e descobri que um parafuso havia saído da posição. Pior: o parafuso estava retorcido de tal maneira que eu não conseguia recolocá-lo no lugar nem retirá-lo completamente. A solução, pensei comigo, seria limar o parafuso para conseguir retirá-lo e substituí-lo por outro. Daria um pouco de trabalho, mas não seria nada de mais. Porém, apesar de ter uma caixa de ferramentas relativamente completa, eu havia esquecido de trazer uma lima! Paciência, pensei comigo. Melhor não se preocupar com isso àquela altura (já anoitecia). No dia seguinte, eu acordaria cedo, desembarcaria, procuraria uma ferragem e, munido de lima e parafusos, faria o conserto. Ninguém disse que nossa aventura seria fácil ou que estaria livre de imprevistos! Mesmo assim, continuava a valer a pena.