Ah, Guatemala! País tão pouco conhecido pela maioria dos brasileiros. Tão obscuro, aliás, que até as placas de carros da região indicam, junto com o nome do país, o do continente -
Centroamérica. Como se explicassem a quem é de fora onde fica o país. Pois a Guatemala compreende aquela porção terra imediatamente ao sul do
México que o separa dos demais países da América Central. Um lugar que figura nos jornais pelas notícias de imigrantes ilegais que tentam chegar aos Estados Unidos e nos livros de história pela civilização maia do passado.
É um país de contrastes, de raízes indígenas e colonização ibérica, em muitos aspectos muito parecido com a nossa familiar república de bananas. Convivem com o mesmo tipo de problemas que nós: de pobreza (exacerbado pela má distribuição de renda), de violência (agravado por um histórico recente de guerra civil e de guerrilhas), de um governo alheio às necessidades da população. A despeito disso, é um daqueles lugares em que as pessoas são genuinamente acolhedoras.
Os guias de viagem falam da violência na Guatemala num tom de meter medo. E não ajuda perceber, logo de cara, que muitas lojas são totalmente gradeadas - atende-se o público por trás das grades, literalmente. Outros estabelecimentos não têm grades mas colocam, em seu lugar, seguranças armados de ameaçadoras espingardas. Principalmente na capital, Cidade da Guatemala, que aliás a maioria dos turistas parece simplesmente evitar. Num caso e no outro, sutis exageros: a violência certamente existe (todo o aparato não seria à toa), mas não vimos nada e me arrisco a dizer que não é muito diferente do Brasil; quanto à capital, ela não é a parte mais bonita do país, mas como conhecer de verdade a Guatemala sem sequer passar por sua maior cidade?
Deixando-se levar pelo país, vamos descobrindo mais sobre ele. Boa parte dos carros que circulam são trazidos, usados, dos Estados Unidos. Mas topamos também com uma revendedora Maseratti, não por acaso ao lado de uma loja Montblanc. Nosso mundo é mesmo uma terra de contrastes.
Aprendemos que os guatemaltecos têm para si um gentílico informal: são
chapines, com muito orgulho. Já a sua moeda é o
quetzal, nome tomado emprestado da exuberante ave nacional. O que não falta na Guatemala são palavras interessantes, de dar gosto falar. Algumas delas são de raiz francamente indígena, outras são apenas predileção por uma variante menos popular do espanhol. Línguas de colonizados e de colonizadores - ah, mundo de contrastes. A Guatemala é um dos países americanos com a maior e mais notável população indígena, reconhecível pela fisionomia, pelas roupas e por falar uma das dezenas de línguas maias reconhecidas. Mesmo colonizados e, em grande parte da história, marginalizados, a influência maia vai além, em aspectos como a cultura e a comida.
E como não dizer que a Guatemala, com uma população dez vezes menor que nosso Brasil, deu ao mundo dois prêmios Nobel? Um, de
Rigoberta Menchú, justamente em razão da luta pela inclusão dos povos indígenas; o outro, de
Miguel Ángel Asturias, escritor que mesclou aspectos de realismo mágico, da cultura maia e de um estilo inovador para fazer uma crítica social incisiva. É minha atual leitura de cabeceira, uma das tantas descobertas que trouxe dessa tal América Central, tão nossa desconhecida.