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Čaršija, o centro antigo |
Escópia, a capital da
Macedônia, é uma das cidades mais surpreendentes que já visitei. Por mais que cada cidade dos Bálcãs (uma região particularmente diversa) tenha suas peculiaridades, a capital macedônia atual encontrou uma forma única de se diferenciar.
Ao que parece, a cidade - chamada de Skopje ou Скопје nas línguas locais - era um lugar relativamente cinza e sem graça durante a maior parte das últimas décadas. Em 1963, um terremoto arrasou a cidade. O desastre, porém marcou a região de duas formas talvez inesperadas. A primeira delas, política: foi um grande exemplo (ou oportunidade, ou pretexto) para o Marechal Broz Tito, o poderoso presidente da Iugoslávia, usar sua diplomacia visando a atrair investimentos da comunidade internacional. Em plena Guerra Fria, a Iugoslávia gozava de uma posição ímpar: um país não-alinhado, o que tornou possível que o esforço de reconstrução da cidade fosse feito com ajuda tanto do bloco ocidental quanto do bloco dito comunista. Até hoje, muitos logradouros de Escópia têm nomes que homenageiam doadores que ajudaram na reconstrução: a rua México, o quarteirão russo, os blocos sueco e finlandês.
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Ponte das Artes sobre o rio Vardar |
Mesmo assim, a cidade reerguida dos escombros não deixava de ter a cara da arquitetura socialista iugoslava, ou seja, continuava um tanto cinza e sem graça.
A coisa toda mudou radicalmente há poucos anos, quando a prefeitura resolveu executar um grande plano de reurbanização, enchendo a cidade de monumentos, pontes e prédios grandiosos. O conceito de arquitetura neoclássica foi levado às últimas consequências em colunas, fachadas e outros elementos que lembram nitidamente a antiguidade da região. Algumas das construções impressionam pelo tamanho, outras pelo realismo, outras ainda por um ar, digamos,
kitsch - um exemplo é
o inacreditável hotel em que ficamos, erguido sobre pilares cravados no rio para imitar um barco. Inusitado, sem dúvida. O hotel-navio disputa a atenção dos passantes com fachadas cheias de colunas, pontes repletas de estátuas e monumentos como o de Alexandre, o Grande. Isso sem contar que em fevereiro de 2017, quando visitamos, a cidade continuava com diversos canteiros de obras a anunciar futuros acréscimos à paisagem.
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Uma das muitas estátuas |
Não faltam críticos a essa política de urbanismo. Alguns dizem que se trata de desperdício de dinheiro para um povo que não é exatamente rico. Outros dizem que as construções não são "autênticas" ou que deixam de lado a oportunidade de valorizar o trabalho de artistas de vanguarda. Há quem fale que estão transformando Escópia numa Las Vegas dos Bálcãs. Eu particularmente acho as críticas exageradas. Pode haver controvérsias, sim, mas não me resta dúvidas de que todas essas obras fazem da capital macedônia um lugar muito bonito - e quem não gosta de viver num lugar bonito? E as partes antigas da cidade - como as ruínas do forte, o velho centro e os templos - estão sendo preservadas. As novas obras trazem consigo corrupção e desvio de verbas? Provavelmente sim, infelizmente, duma forma que nós brasileiros ja estamos (vergonhosamente) acostumados. Mas é claro que o embelezamento da cidade não é o culpado pela corrupção e não deve ser atacado por isso; não culpemos os frutos sadios pela parte podre. Enfim, o fato é que é difícil ficar indiferente quando se visita Escópia e, ao mesmo tempo, vê-la pessoalmente ajuda muito a entendê-la - como sói acontecer com as cidades, principalmente as longínquas.
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Hotel Senigalia, construído num (falso) navio |