Talvez se possa dizer que os países árabes, de forma geral, são os que mais são vistos com preconceito no Brasil. Claro que isso tem uma série de motivos, como a relativa distância (física e cultural) desses países, uma deficiência da nossa educação, uma imprensa parcial e (por que não) uma certa preguiça de aprender sobre outras culturas antes de repetir ideias fáceis sobre elas. Uma pena, eu acho... Mas não é minha intenção aqui discutir esses motivos.
O fato é que viajar - e viajar de mente aberta - costuma ser dos melhores antídotos contra preconceitos assim.
É verdade que, nos Emirados (e suponho que na maioria do mundo árabe), aspectos culturais e religiosos se entrelaçam, e nem sempre é fácil distinguir o que é um hábito cultural do que é um preceito islâmico. Apesar disso, eu suponho que, em muitos casos, a questão cultural seja mais forte que a religiosa - exatamente como acontece no Brasil e em outras partes do mundo, onde mesmo quem não é cristão fervoroso, muitas vezes, procura casar na igreja, comemorar o Natal, fazer o sinal da cruz antes de uma cobrança de pênalti ou uma decolagem de avião...

Mas nem só de teoria sociológica é feita nossa viagem. A verdade é que ficamos fascinados pelas roupas árabes que víamos expostas nas lojas e nos mercados. Num desses, em Dubai, o vendedor acabou vestindo eu e a Renata dos pés à cabeça, explicando como colocar cada peça. Não compramos as roupas; por mais persuasivo que fosse o vendedor, e ele era bastante, não estávamos dispostos a pagar tanto por algo que não voltaríamos a usar. Mas compramos um hijab (véu) para ela e uma ghutra (turbante) para mim, que acabamos usando um pouco durante o restante da viagem. Como estávamos longe de ser especialistas nessas peças, cuja colocação é mais intrincada do que aparenta ser (e que varia de acordo com preferências pessoais, regionais e de moda), baseávamos-nos nas indicações do vendedor, em vídeos do Youtube e em algum improviso.
Mais alguns dias, estamos noutro lugar e eu novamente com a ghutra na cabeça. Sou abordado e me perguntam, apontando para minha cabeça: quem fez isso? Respondo que eu mesmo. Meu interlocutor é rápido e solícito: vem cá, vou arrumar para ti! Com prática, desfaz minha obra e refaz a colocação do lenço, dizendo ao final que agora sim está da forma como fazem no país... Agradeço e assumo minha ignorância da moda árabe, enquanto a Renata, que há dias reparava na minha incapacidade de acertar a forma correta de colocar um pano sobre a cabeça, não contém a risada...