Esse aí, disse para si o principezinho, ao prosseguir a viagem para mais longe, esse aí seria desprezado por todos os outros, o rei, o vaidoso, o beberrão, o homem de negócios. No entanto, é o único que não me parece ridículo. Talvez porque é o único que se ocupa de outra coisa que não seja ele próprio.
O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry
Justamente como se passou com o Pequeno Príncipe, é inevitável que encontremos surpresas inusitadas ao andar por aí. Dar de cara com o inesperado é uma das partes gratificantes de visitar outros lugares.
A minha história aconteceu no centro de Zagreb, capital da Croácia, num final de tarde. Justamente naquela hora do lusco-fusco em que o dia começa a virar noite. Reparei num homem que caminhava decidido com uma espécie de longo bastão nas mãos. No primeiro momento, não entendi do que se tratava, e por isso mesmo (curioso que sou) aquilo chamou minha atenção. O homem percorria as ruas com passo rápido, ia de um poste a outro com o tal bastão...
De repente me veio o estalo. Mas não pode ser!... Esfreguei os olhos, olhei novamente e não havia mais espaço para dúvida: um acendedor de lampiões.
Aquele homem era um acendedor de lampiões!
E daí foi impossível não lembrar do Pequeno Príncipe.
Ele ia de poste em poste, levava a ponta do bastão ao topo do poste e assim ia acendendo a luz dos lampiões a gás que iluminam o centro da cidade.
Meu primeiro impulso foi conversar com o acendedor de lampiões. Mas então me ocorreu que eu não sabia bem o que dizer; além disso, o homem estava trabalhando e talvez não gostasse de ser interrompido. E mais ainda: ele caminhava bem rápido!
Apertei o passo decidido, pelo menos, a segui-lo. Eu não queria perder de vista aquela tarefa tão incomum, fadada à extinção no resto do globo. E queria ter a oportunidade de registrar alguma foto.
Bem, fotografá-lo foi mais difícil do que eu gostaria. Não só porque o acendedor de lampiões não parava um instante sequer, mas também porque obviamente a luz do dia já estava indo embora. Isso significou, infelizmente, fotos tremidas. Mas que valem pelo registro.
Claro que, passada a epifania, fui pesquisar. Zagreb é uma das raras (mas não a única) a ter lampiões a gás e respectivos acendedores de lampiões como parte do sistema de iluminação pública. Em Zagreb, são pouco mais de 200 lampiões a gás, todos na parte central da cidade, que duas pessoas levam menos de duas horas para acender (no final da tarde) ou apagar (pela manhã). E que, inegavelmente, dão um pouco mais de charme à capital.