A História está cheia de pequenas ironias. Uma delas é que o tango, tido em boa parte do planeta como um ritmo tipicamente argentino, teve sua mais famosa dupla de compositores formada por... um uruguaio e um brasileiro.
Não toquem no assunto quando estiverem de passagem por Buenos Aires, sob pena de terem de sustentar uma discussão acalorada com seu interlocutor. Mas lembrem-se disso se depois cruzarem o Rio da Prata para pisar em terras uruguaias - a devoção dos uruguaios pelo tango não perde em nada para a dos argentinos.
Enfim, voltando à dupla de compositores... Eu estava falando do paulista Alfredo Le Pera e do arquifamoso Carlos Gardel, uruguaio. Dizem os argentinos que só por acaso ambos nasceram fora do país deles, mas o fato é que, enquanto um era brasileiro, o outro era uruguaio da pequena Tacuarembó. E Gardel acabou se tornando a principal referência dessa cidade a 100 km da fronteira com o Brasil. Cidade que, depois de termos ido a Rivera, não perdemos a oportunidade de visitar.
Além de Gardel, a outra referência que os uruguaios têm de Tacuarembó é que se trata da capital de la patria gaucha - encravada no pampa e local de um importante festival campesino.
Para quem a visita sem pretensão, Tacuarembó supera as expectativas. Ruas simples e bonitas de casas baixas, praças agradáveis, mais museus do que se poderia imaginar numa cidade desse porte. Sem contar, claro, a irresistível comida uruguaia e a simpatia das pessoas que nos cumprimentam quando passamos.
Como não podia ser tudo perfeito, tivemos o azar de que nossa visita caiu num domingo e, assim, a cidade estava um tanto vazia, com o comércio e os museus fechados. Mas isso não chegou a tirar a graça do passeio, emoldurado na ida e na volta pela paisagem do pampa.
Ah, sim, e ainda a propósito da controvérsia do tango, para que não digam que os locais de nascimento de Gardel e Le Pera foram só casualidade: saibam também que o primeiro disco de tango da história foi gravado em Porto Alegre! E La Cumparsita, que é provavelmente o tango mais famoso do mundo, foi composta por Gerardo Matos Rodríguez, que era, também ele, tão uruguaio quanto o dulce de leche Conaprole!
Implicâncias à parte, o bom da música é que ela é universal, então fiquemos com o que Gardel e Le Pera sabiam fazer bem, ou seja, música. No caso, com vocês, Volver: