Regiões de fronteira proporcionam casos inusitados. O estado do Rio Grande do Sul como um todo compartilha muito da paisagem, da comida, do vocabulário e do jeito de viver com os vizinhos do Prata. E, claro, esse compartilhamento fica mais intenso à medida que se aproxima da fronteira.
A paisagem quase não muda: saindo de Porto Alegre, enveredamos por estradas de retas sem fim - a verdadeira Infinita Highway - que cortam campos pontuados de coxilhas até a chegada em Santana do Livramento. Dali até o Uruguai, nem se percebe a travessia: basta atravessar a rua e se chega a Rivera. Numa calçada o Brasil e na outra o Uruguai, simples assim.
É quase decepcionante: estamos num país estrangeiro, mas ninguém pediu nossos passaportes, todos falam português e aceitam reais, e nossos celulares continuam funcionando. Por outro lado, pensando bem, o Uruguai nunca me será um país estrangeiro, não no sentido de estranho. É fantástico. Sentamos num lugar qualquer e temos a oportunidade de provar doces e salgados deliciosos. Alfajores. Dulce de leche. Sem dúvida, eis o Uruguai.
Agora, quem vem a Rivera normalmente é porque quer fazer compras. Não sei se somos exatamente normais (quem o é, afinal?), mas não há como resistir: vamos às compras! Para começar, é claro, alfajores. Caixas e caixas! E doce de leite. E erva-mate. Quando percebo, comprei até o que não pretendia, mas que me caiu bem - no caso, um tênis e a promessa de, com ele, voltar a correr.
Entre uma compra e outra, não poderia ser diferente - comida! Em Rivera, as tentações gastronômicas estão por toda parte, é difícil manter a boca fechada. Nada mais uruguaio. Almoço um chivito, jantamos uma parrilla, e acordamos mais que dispostos para enfrentar um café da manhã de medialunas con dulce de leche. O astral é dos melhores, parece que tudo é motivo para uma conversa, uma piada, um sorriso. Ainda mais que estamos em época de visita de Francisco ao Brasil, é impossível não lembrar dO Banheiro do Papa - filme uruguaio recomendado para qualquer um e indispensável aos visitantes da fronteira.
Acontece que, não importa quantas vezes cruzemos a fronteira (a rua) de Livramento a Rivera, estamos (voltamos) em terras uruguaias. Que, hospitaleiras que são, chamam-nos a um passeio pelo interior do país. Mas isso já é história para outra carta.