sábado, 23 de março de 2013

Pauliceia


Este texto é uma declaração de amor a uma cidade que eu já odiei.
Sim, eu já detestei São Paulo. Já caminhei por suas ruas chutando pedras, já chorei sozinho, baixinho, no meio da multidão. Nas primeiras vezes, estive em São Paulo a trabalho. Durante um tempo, ia quase todo mês – passava um ou dois dias na cidade em intensas reuniões onde eu, via de regra, tinha de defender as ideias em que acreditava diante de uma audiência hostil. Coisas da vida adulta. Isso também foi numa época em que eu definitivamente não vivia um bom momento pessoal, tinha os nervos em frangalhos. Saía das reuniões e não sabia onde me refugiar, caminhava a esmo pela Av. Paulista, lamentava-me por passar sempre em frente ao MASP quando ele estava já fechado, depois me escondia no hotel. Isso quando não ficava simplesmente preso no trânsito.
Não sei explicar como foi que, aos poucos, superei aquele ódio. Talvez por eu mesmo ter superado a má fase (inclusive tendo algum sucesso nas famigeradas reuniões) ou porque, já que estar em São Paulo era inevitável, decidi dar uma chance à cidade. O fato é que, de alguma forma, ela foi se mostrando mais agradável. As atrações da Pauliceia não estão escancaradas; pelo contrário, são uma galeria que se descobre por acaso, um sebo, uma padaria, um museu, um restaurante, bem como a imponderável vantagem de uma cidade que se orgulha de poder oferecer tudo (ou quase tudo) ao visitante, a qualquer hora.
Daí que me descobri particularmente vítima de uma paixão desvairada por dois insuspeitos pedaços de concreto e asfalto dessa cidade. Lugares onde, por mais improvável que pudesse parecer, acabei me sentindo em casa.
O primeiro foi a esquina das avenidas Paulista e Consolação e seus arredores. Percorri inúmeras vezes aquelas calçadas entre o MASP e o finado Cine Belas Artes. Comi milho verde na rua, peguei ônibus, metrô, e até corri por ali durante uma inesquecível São Silvestre. Passei pela Consolação a caminho de uma noite de futebol no estádio. A panorâmica da Paulista acabou virando, nos insondáveis caminhos da memória afetiva, meu símbolo de São Paulo. E, sobretudo, eu ria da ironia que fazia com que a estação de metrô da Paulista se chamasse Consolação e a da Consolação, Paulista.
Depois, a Escola Politécnica da USP virou destino frequente por causa do mestrado que acabei cursando. E meu coração se mudou do binômio Paulista-Consolação para a Cidade Universitária, meu outro canto favorito na Pauliceia. De tudo que eu poderia falar da USP, um ponto acima de tudo foi que me conquistou: as pessoas. Lá fiz bons amigos. Do medo que eu tinha, de o mestrado me deixar bitolado (afinal, eu não queria me especializar tanto a ponto de ser um “especialista em nada”), aconteceu o contrário: pude abrir minha mente. E isso especialmente por causa das pessoas – de lugares diferentes, com formações, experiências e vivências diferentes.
Daí que, no final das contas, tudo se resume à fórmula de sempre: a mágica do lugar está nos seus habitantes. Eu não costumo recomendar São Paulo a visitantes estrangeiros, porque eles simplesmente não costumam ter tempo para ir além do superficial. Mas também não deixo de dizer: essa São Paulo é uma cidade fantástica para quem tem coragem de se entregar a ela.

Um comentário:

Renata Teixeira disse...

Nutella, vinho e ovomaltine nos supermercados! Adoro São Paulo! Sorvetes Freddo e Hägen Dazs - sucesso total dos malls da capital econômica do país! Pena que sempre que estamos juntos o sol tá infernal, a garoa nunca se junta a nós. Vamos continuar tentando!