Quando puderem, assistam a "In the land of blood and honey" ("U zemlji krvi i meda"). É um filme sobre a Guerra da Bósnia. Não esperem as palhaçadas trágicas de "A vida é bela"; é só mais um filme de guerra. Um filme magnífico. Verdade que, como praticamente qualquer um que se propusesse a mexer numa ferida tão funda e recente como a da Guerra da Bósnia, o filme levanta polêmica. Mas, acima de tudo, faz pensar.
Assisti a ele num cinema de Sarajevo.
Passei toda a sessão sem respirar, o coração apertando a cada cena que a tela mostrava. Guerra, a coisa mais estúpida que pôde ser inventada, aquilo que nos faz sentir vergonha da raça humana. Saí do cinema com vergonha.
E procurando desesperadamente algo de que eu pudesse me orgulhar.
Vi olhos bonitos que olhavam para os meus e mãos macias que tocavam as minhas. Saí para a rua e vi o anoitecer numa Sarajevo linda. Sim, linda. Coberta de neve, cortada por um rio, um rio costurado por pontes, pontes construídas por mãos humanas... Mãos que não sei se eram bósnias, sérvias ou croatas. Mãos muçulmanas ou cristãs, ou talvez agnósticas, ou quem sabe de que outra religião? Uma Sarajevo de gente bonita, de gente simpática, sobretudo de gente que não é tão diferente assim de nós ou de seus vizinhos. Uma Sarajevo de músicas alegres e comidas saborosas - tudo isso também feito por mãos humanas. Assim como o filme que vi - feito por mãos humanas para que algo triste e importante não fosse esquecido, ou para fazer um desabafo como o que minhas mãos escrevem agora. Assistam o filme para se certificarem de que nenhuma guerra é bonita, mas venham a Sarajevo quando puderem para descobrirem que esta cidade e estas pessoas têm, sim, um coração encantador.