É verdade: ao sair de Nibe, estávamos (o Puffin, Renata e eu) em êxtase. Tínhamos assistido a um show único, com músicas lindas, e feito novos amigos. O que mais poderíamos esperar daquela viagem?
Também é verdade que tínhamos alterado o roteiro previsto justamente para acomodar o festival de Nibe (e, claro, o show da Eivør) na nossa programação. Foi assim que Aalborg surgiu em nosso caminho, literalmente: como uma cidade próxima a Nibe onde poderíamos passar a noite.
Aalborg lembra um pouco Copenhague, com ruas, avenidas e prédios num estilo parecido. Mas o que mais nos chamou a atenção foi quando nos refugiamos do burburinho urbano no Kildeparken, o parque municipal. Numa área ali dentro encontramos o Parque da Música. É uma tradição de Aalborg que músicos, ao visitarem a cidade, plantem uma árvore no parque. Assim, o lugar contém dezenas de árvores plantadas por nomes diversos, de Bryan Adams a Jhetro Tull e de Shakira ao (agora Prêmio Nobel) Bob Dylan. Mais ainda, ao pé de cada árvore há um pedestal que, além da indicação do artista e da data em que a muda foi plantada, contém um botão. Apertando-se o botão, ouve-se uma canção daquele músico. Ou seja, trata-se de um bosque em que as árvores cantam músicas de alguns dos grandes artistas internacionais! Definitivamente, o norte da Dinamarca ficará marcado em nós como um lugar bem musical!
Seguimos depois para Aarhus, a segunda maior cidade do país (300 mil habitantes). Como já estávamos voltando em direção ao sul, a viagem começava a ter um tom de despedida, de últimos dias. Mesmo assim, acabei gostando bastante de Aarhus, uma cidade bonita e fácil de se conhecer a pé, com uma interessante mistura de áreas urbanas e parques arborizados.
É em Aarhus que está Den Gamle By, uma espécie de museu ao ar livre que é simplesmente fantástico. Den Gamle By ("A Cidade Antiga", literalmente) é um conjunto de dezenas de casas históricas, muitas com séculos de idade, que foram reunidas, restauradas e mobiliadas cuidadosamente. Assim, ao se caminhar pelas ruas do complexo e entrar nas casas, tem-se a impressão de estar vivendo uma época antiga - a rigor, o complexo é dividido em três áreas que retratam períodos diferentes, o primeiro entre os séculos XVI a XIX, o segundo nos anos 1920 e o terceiro nos anos 1970. Ocasionalmente, pessoas perfeitamente caracterizadas de acordo com o ambiente passam por nós - um ferreiro, um cocheiro, um músico de realejo. Infelizmente, em alguns momentos Den Gamle By parece ter visitantes demais, especialmente quando se entra em algumas das casas mais antigas (e apertadas); mas este é um mal comum às grandes atrações.
E, enfim, estando em Aarhus vindo de Aalborg e tendo visitado antes Faaborg, não poderia me passar despercebida a relação dos dinamarqueses com a letra a. Ou, mais precisamente, com o dígrafo aa. O curioso é que, desde 1948, a ortografia oficial dinamarquesa estabelece que o encontro de duas letras a seja escrito como å - ou seja, o "a com bolinha" é a versão nórdica da nossa crase. Acontece, entretanto, que, embora este å seja de uso corrente desde então, cidades que historicamente tinham aa como parte do nome não gostaram da ideia da mudança. E se apegaram à grafia antiga!
Bem, depois de nossos dias na terra das letras a, a viagem estava definitivamente chegando ao fim. Só nos restava dirigir diretamente para o aeroporto de Copenhague e esperar pelo nosso voo. E é aqui que acaba entrando a última dica desta viagem, e eu diria que valiosa. Já havíamos passado algumas horas de conexão naquele aeroporto antes e, mesmo ele não sendo pequeno, a espera nunca é agradável. Pois descobri que a cerca de um quilômetro do aeroporto fica Den Blå Planet ("O Planeta Azul", e vejam aqui o å dando as caras). É o maior aquário da Dinamarca e daquela região, com várias espécies de peixes, crustáceos, moluscos e outros animais, incluindo lontras-marinhas e os inconfundíveis puffins. Uma bela maneira de terminar essa viagem de encontros, reencontros, casamento e lua-de-mel.