A ilha de Paquetá é, de certa forma, o patinho feio do Rio de Janeiro. No interior da baía da Guanabara, Paquetá é lembrada, principalmente, por ser o cenário em que Joaquim Manuel de Macedo ambientou A Moreninha. Acontece que já se passou um bocado de tempo desde a publicação do romance (167 anos, para ser exato) e, para boa parte de nós, A Moreninha não evoca mais que uma vaga curiosidade dos tempos de escola. Na época de Macedo, a ilha deveria ser um encantador refúgio de veraneio, mas hoje, mesmo que se diga que suas praias tenham voltado a ter condições de banho, Paquetá está longe de disputar com outros destinos a preferência dos cariocas.
É justamente o contrário. Paquetá simboliza com precisão um fenômeno particularmente acentuado no Rio de Janeiro: o de que a população local conhece quase nada da sua própria cidade. Pois perguntem a qualquer carioca se ele já foi a Paquetá e ele dirá que não ou, quando muito, dirá que foi uma vez, quando criança, décadas atrás.
Cá entre nós, os cariocas que me perdoem, mas eu prefiro assim. Gosto desta ilha de Paquetá como um patinho feito a quem ninguém dá muita atenção. Afinal, a atração de lá definitivamente não são as praias (embora algumas delas ofereçam paisagens agradáveis). O gostoso de Paquetá é justamente a sensação de que algo parou no tempo e de que não estamos no mesmo ritmo do restante da metrópole. O exemplo mais lembrado é o fato de que não se anda de carro na ilha (pode-se percorrê-la a pé, ou de bicicleta, ou ainda de charrete). Mais ainda, o relativo isolamento insular também se reflete na naturalidade com que os pescadores vendem peixe na praça central, com que as árvores crescem literalmente no meio das ruas de terra (e há até um famoso baobá convertido em ponto turístico) e com que se pode cumprimentar qualquer pessoa que passe ou até mesmo puxar assunto com desconhecidos sem que isto pareça estranho.
Não esperem luxo nos restaurantes. Relevem a aparência antiga, às vezes mal cuidada, de algumas casas. Não é aí que reside o encanto deste patinho feio. Por outro lado, observem as árvores floridas, explorem o coreto, sintam a vista que se descortina do alto da ilha. Deixem o tempo passar como quem não tem pressa.
O meio natural para se chegar a Paquetá é a barca que faz o trajeto entre a ilha e o Centro do Rio de Janeiro em cerca de uma hora. Perfeito para quem quer passar um dia lá, voltando ao final da tarde. Mesmo isso, porém, tem sido um tanto moderno demais para mim: nas últimas vezes, preferi ir à ilha de veleiro e assim, tendo o vento como companhia e sem hora certa para chegar, já se pode entrar no clima de Paquetá logo ao soltar as amarras, ainda do lado de cá. Do lado de lá, os coloridos pedalinhos em forma de cisnes se espalham pela praia que já foi da Moreninha. Nem é preciso andar neles. Basta observá-los, fotografá-los, emoldurar com eles o horizonte e o sol que, com sua imperturbável calma, vai se por naquela direção quando chegar a hora. Apreciemos. Afinal, quem resiste a um pôr-do-sol além do mar?